11 de abril de 2024

O mundo conspiratório bolsonarista

Autor: Redação

O bolsonarismo pula de conspiração em conspiração desde que ganhou tração - o combate ao sistema, a reprovação do que foi encarado como imposição da utilização de cadeirinhas de segurança para bebês em automóveis, as bigpharmas que escondiam a cura da covid, as vacinas que eram experimentais, as urnas fraudadas, as pesquisas manipuladas pela esquerda, os professores doutrinadores; a lista é infindável. O Elon musk dono do X, que espalha mentiras sobre a justiça brasileira e Alexandre de Moraes, só oferece mais uma para gerar sentido existencial e manter o pessoal em alerta. Numa de suas invenções, Moraes soltou Lula para mantê-lo numa coleira após a eleição. Não importa o fato de que o citado ministro votou contra a soltura do atual presidente. Afinal, a verdade não interessa. Cabe apenas alimentar os desejos de um agrupamento que é estudado hoje como portador de comportamento de seita.

Na prática, as conspirações representam uma impossibilidade sociológica e política - para se sustentarem, teriam que congregar interesses de muitas pessoas em amplo em sigilo. Elas se desfazem porque rapidamente se inviabilizam, já que não há como reunir tantas diferenças de pensamento e opinião sem que a operação sofra a própria implosão. Mas o pensamento conspiracionista surge da radicalização da atomização individual diante de um mundo que é estranho e inaceitável ao sujeito. Confrontado com uma realidade insuportável, ele se abriga na fantasia e se fecha para tudo e todos que ameacem o seu faz de conta de conveniência. A mídia que lhe mostra o que ele não quer enxergar é comunista e gayzista. Críticos razoáveis viram pedófilos e terroristas. Operações policiais com amplo arsenal de provas, vídeos, troca de mensagens são “narrativa”, noção banalizada para desqualificar e afastar o que a verdade impõe.

A questão é que o mundo do homem médio branco brasileiro e de idosos presos a sua geração, ampla base de apoio do bolsonarismo, desmorona. As mulheres de quem eles esperam conduta subserviente numa verborrágica retórica que se esconde na falsa defesa da família querem cada vez mais trabalhar e estudar. Cidadãos LGBTs, que os seguidores do mito anseiam colocar novamente numa caixinha escondida, ganham autonomia e afirmam direitos. O racismo sinônimo de uma sociedade desigual como a nossa agora é falado e há políticas efetivas de enfrentamento, destinando espaços antes exclusivos das classes sociais que sustentam o bolsonarismo. Não tem jeito. Nesse enfrentamento, a reação só tenta retardar o inevitável tal como ocorreu com os descontentes com a deflagração da revolução francesa.

Por isso que é ingênuo supor que alguém, a essa altura do campeonato, ainda é enganado por fake news. Espalhar notícias falsas faz parte do próprio modo militante do agir conspiratório. Afinal, se a pessoa acha que está do lado certo e luta contra o mal, o que é uma mentirinha diante do retorno ao mundo melhor? Vivemos uma época de transição. E as turbulências representam os últimos suspiros da resistência ultrapassada. Os processos de longa duração não serão freados.

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