O presidente Jair Bolsonaro passou semanas, agitando sua base em prol da apresentação do Supremo Tribunal Federal como problema do Brasil. Comícios quase que diários com tal perspectiva.
A base atendeu e pediu o fechamento do STF e/ou a retirada de ministros.
Muito foi gasto em tempo, recurso e organização e o dia 7 de setembro saiu do papel. Manifestantes queriam as cabeças de ministros. Jair Bolsonaro alegou, em discurso em São Paulo, que não mais iria obedecer ao que viesse do STF. Agora é a hora, bradou o presidente. A galera foi ao delírio.
Mercados reagiram mal diante de uma economia cambaliante e abandonada. O presidente do supremo Luiz Fux alegou que existia crime de responsabilidade. A imprensa chamou os atos pelo nome – antidemocráticos. O congresso também não deixou por menos e Bolsonaro perdeu alguns partidos, que saíram de vez da base.
Dois dias depois, Jair Bolsonaro assina uma carta redigida pelo ex-presidente Michel Temer, um dos expoentes do sistema que ele diz combater, e pede desculpas aos ministros do supremo.
O militante se sente lesado. Afinal, foi, se engajou e esperava a prometida reciprocidade.
A oposição endossa o sentimento do bolsonarista com chacota – sim, você foi idiotizado.
A base cobra satisfação do presidente.
E Jair Bolsonaro e seus influencers sentenciam – foi um recuo estratégico para deixar a esquerda com raiva, que queria o presidente fizesse o que ele ficou semanas prometendo e o que vocês endossaram, mas ele não fez.
TRÊS CAMINHOS
Existiam três possibilidades:
- Tanto o militante, como Bolsonaro, entenderem que essas movimentações são infrutíferas no sentido de construir qualquer coisa de positiva e passarem a jogar dentro do sistema. Afinal, a crise é muito grande e do, jeito que vai, Bolsonaro caminha para uma derrota em 2022;
- O militante abandona o presidente por se sentir traído. Afinal, os caras foram feitos de bobos;
- A base bolsonarista adere a estratégia do inimigo imaginário sempre lançada pelo presidente, para continuar com o seu jogo guerra cultural, ameaças e recuos (e posterior renovação do ciclo).
Sim, todos sabemos o resultado. Pelo que é possível acompanhar nas redes sociais, a maioria foi pelo ponto três. E, não importa o que ocorra, crise, enganações, erros, corrupção, mortos na pandemia, etc, o nucleo duro bolsonarista, tão ou mais radical do que o seu presidente, irá com ele até o fim.
É a já bem mapeada roda do populismo que gira entre um líder e seu militante, que se consideram o povo por excelência e qualquer postura diante disso é encarado como excrescência. Bolsonarismo é seita, isto é, uma comunidade autorreferida que se informa apenas entre eles e nada do que vem de fora é aceito como real, verdade ou humano. A criação de moinhos de vento e de inimigos servem para blindar o movimento.
Em resumo, Bolsonaro utilizará esses seus 20%, 25% para ameaçar o sistema, tentar melar as eleições e salvar a família dos processos que já começam a chegar. Outros 7 de setembro virão.