PRESSÃO E A NECESSIDADE DE REFLEXÃO
As associações do comércio e empresários tiveram reunião ontem (21) com a governadora Fátima Bezerra, através da internet, para pressionar pelo fim do isolamento social, abertura do comércio e das empresas.
Diante do fato, o fla-flu se instalou. Mas como o fim do isolamento não é algo que se resolve com mera posição política, mas com debate racional fundamentado, cabe um conjunto de reflexões.
ATENDEMOS AS RECOMENDAÇÕES DA OMS PARA O FIM DO ISOLAMENTO?
O pleito é legítimo, mas a operação bastante complicada. Conforme publicado pela imprensa nacional, a Organização Mundial de Saúde lançou as seguintes recomendações técnicas para que o isolamento acabe. São quatro pré-condições:
1. estabilização de casos reportados de coronavírus;
2. capacidade de testagem e rastreamento dos doentes por covid-19;
3. ampla utilização de etiqueta sanitária (uso de máscaras, distanciamento individual, ações de higiene); e
4. leitos de retaguarda caso a pandemia volte a se manifestar na região.
O RN ATENDE A ESSES PONTOS?
Objetivamente, sem politização, o Rio Grande do Norte atende a esses pontos?
1. Nossa situação é melhor do que a de outros estados, mas há estabilização dos casos? Os boletins epidemiológicos vêm mostrando que não. Estamos em condição de crescimento;
2. Há testes suficientes? Ora, não estão fazendo exames nem nos mortos. A subnotificação é nacional. Apenas pessoas já com falta de ar têm acesso aos testes, isto quando têm. Como iremos isolar doentes e desacelerar o contágio sem isso?
3. A etiqueta sanitária é regra nas ruas? Não. As pessoas estão sem máscaras e se aglomerando. Um estudo alemão demonstrou que, caso as regras sejam seguidas, o contágio diminui. Mas essa não é a realidade no RN. Neste sentido, uma ampla campanha publicitária e de conscientização deve preceder a abertura do comércio e o retorno à normalidade;
4. Por fim, os leitos hospitalares hoje nas terras potiguares são suficientes para aguentar uma possível aceleração das internações em decorrência do fim do isolamento? É uma pergunta que fica para os planejadores, que certamente têm uma resposta.
GESTÃO COMPARTILHADA
O Governo mostrou cautela e sinaliza com a extensão do decreto até o dia 05 de maio. E há uma obviedade política nisso, que infelizmente não vem sendo considerada pelos defensores do fim do isolamento. A pressão para a abertura vem do setor empresarial, mas se não sair conforme imaginado, a culpa será da governadora Fátima Bezerra.
Mas não pode ser assim. O Goveno deve entrar com o plano, mas as associações comerciais, empresariais e da sociedade civil organizada devem mostrar interesse em compartilhar da perspectiva de formulação de ações e comprometimento com precauções de segurança.
Do contrário, do ponto de vista político, fica fácil correr riscos com o capital político dos outros e, do ponto de vista social, com a vida dos outros.
UM BOM EXEMPLO QUE VEIO DA FIESP
A federação das indústrias do estado de São Paulo apresentou um plano, espécie de termo de ajustamento de conduta, ao governo de São Paulo, para afrouxar o isolamento por lá. Consta uma série de precauções, rodízios de trabalho entre os setores econômicos para não entupir o sistema de transporte público, comprometimento com regras de higiene, etc. É uma forma distinta do empresariado negociar com o governo. Poderia ser copiado por aqui.