6 de novembro de 2022

Projeto “Sífilis Não” transforma realidade da região de fronteira no Brasil

Autor: Redação

Composta por nove países, 11 estados brasileiros e mais de 10 milhões de habitantes, a região de fronteira no Brasil tem índices de infecções por sífilis maiores do que a média nacional. A informação é resultado de um estudo, realizado por pesquisadores brasileiros, que aponta outros fatores importantes, como as taxas de sífilis adquirida em gestante e congênita – quando a infecção passa da mãe para o bebê.

Proporção de municípios com cobertura de atenção primária maior ou igual a 95%, taxa de detecção de sífilis na gestação, incidência de sífilis congênita, segundo arco de fronteira, 2020

Todas as informações fazem parte do artigo Sífilis gestacional e congênita na fronteira internacional no Brasil, de autoria de pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN). O trabalho foi publicado na Plos One, importante periódico científico internacional.

De acordo com Leonor Lanoy, uma das autoras do artigo, os resultados obtidos mostraram que a região de fronteira brasileira apresentou maior taxa de detecção de sífilis adquirida em 2020, se comparada com os dados nacionais. Essa taxa é igual a de detecção de sífilis em gestantes e menor do que a registrada para a infecção congênita. Para a pesquisadora, esses dados mostram um melhor controle da sífilis no país.

“O  estudo se propôs analisar a distribuição da sífilis adquirida, em gestantes e sífilis congênita, nos últimos anos na faixa de fronteira, uma vez que não há análises desses agravos na região. O trabalho é importante porque as regiões de fronteira apresentam características peculiares e vulnerabilidades específicas que podem contribuir para a transmissão das IST”, ressaltou a pesquisadora.

Esses espaços brasileiros têm características específicas, como o fato de estar à margem dos grandes centros e com menos recursos econômicos, além de ser uma região de baixa densidade demográfica. Conforme explicou Leonor Lannoy, os achados mostram que a detecção de sífilis em gestantes se mantém acima da taxa de detecção nacional e a incidência de sífilis congênita é menor durante toda a série histórica. “As elevadas taxas de detecção de sífilis em gestante demonstram ampliação do acesso ao pré-natal na região. O artigo busca contribuir para o fortalecimento do sistema de saúde e na construção de políticas específicas, solidárias, que atendam cidadãos de ambos os lados”, concluiu.

Projeto “Sífilis Não”

O artigo publicado é mais um produto oriundo do Projeto “Sífilis Não”, fruto de uma cooperação técnica entre a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), por meio do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS), e o Ministério da Saúde, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Desde 2017, o projeto vem atuando como ferramenta de indução de políticas públicas para o enfrentamento à sífilis no Brasil.

Para o diretor executivo do LAIS, professor Ricardo Valentim, o “Sífilis Não” é um projeto complexo que dá exatamente a dimensão continental do Brasil e esse artigo mostra a questão da sífilis em gestante e sífilis congênita, que são grandes desafios da saúde pública, especificamente na região de fronteira. “Esse trabalho traz uma avaliação apoiada em dados do Projeto, que demonstra a importância da inclusão da agenda do tema sífilis na agenda de saúde pública do país, incluindo a região de fronteira”, argumentou o diretor do LAIS.

Valentim ainda reforçou que essa inclusão se dá, principalmente, porque os dados demonstram um aumento de casos nessa região fronteiriça do Brasil. “O mais importante é que esses municípios, mesmo localizados em uma região distante dos grandes centros, fazem o teste rápido, o pré-natal e usam a penicilina para o tratamento da sífilis, quando necessário. E isso tudo é reflexo do Projeto “Sífilis Não”, que impulsionou uma política pública necessária e agora entra em uma fase de análise da condução desta política”, finalizou.