23 de novembro de 2022

Em carta aberta, engenheiros do ITA repudiam relatório do PL contra as urnas eletrônicas por baixa qualidade técnica e metodológica

Autor: Redação

Carta aberta de Engenheiros do ITA à população brasileira

17 de novembro de 2022

Considerando a credibilidade do nome da instituição do ITA (Instituto Tecnológico de
Aeronáutica), bem como o impacto que estudos elaborados pelos engenheiros da instituição
possuem, e no sentido de colaborar para enriquecer a discussão sobre a governança das
eleições no País, o grupo de signatários desta carta, composto por engenheiros formados no
ITA que atuam na área de Dados, decidiu se manifestar a respeito do documento “Relatório
Técnico Logs Inválidos das Urnas Eletrônicas” (disponível neste link), de autoria atribuída aos
engenheiros Carlos Rocha, Marcio Abreu e Flávio Gottardo de Oliveira – todos também
formados no ITA -, como reportado na matéria do Estadão (encontrada neste link) e de outros
meios de comunicação.
A seguir são apresentados os pontos que os signatários desta carta gostariam de esclarecer:

  1. Os engenheiros citados como autores do relatório não representam os engenheiros
    formados na instituição, tampouco representam a instituição em si. Em outras
    palavras, o relatório mencionado não possui nenhuma validação metodológica ou
    revisão do ITA para garantir o rigor científico esperado da instituição.
  2. O relatório citado se baseia em duas análises de dados incorretas, que repudiamos
    em metodologia, profundidade e qualidade técnica:
    a) Análise estatística:
    A primeira se refere a uma correlação existente entre urnas com resultado final
    favorável ao candidato Lula e modelos mais antigos de urnas. O relatório afirma que o
    resultado das urnas deveria ser independente do modelo das urnas e utiliza disso
    como motivação para o estudo. Essa afirmação é equivocada em diferentes esferas. Na
    verdade, o relatório ao afirmar que existe viés para o candidato Lula sem considerar
    dados geográficos, por exemplo, comete um salto lógico antes de exaurir todas as
    hipóteses.
    É completamente esperado encontrar algum tipo de viés em uma análise que
    exclui urnas de acordo com algum critério (no caso, urnas de modelo mais novo), dado
    que nem as urnas nem os votos são uniformemente distribuídos (detalhes do
    armazenamento e da logística das urnas podem ser consultados neste link na seção
    “Armazenamento e suprimento de urnas”). Uma simples analogia seria remover urnas
    do nordeste, o que também traria vantagens ao candidato Bolsonaro, por exemplo. A
    observação do relatório, com base no que é apresentado, serve apenas de indicativo
    de que as urnas de modelos antigos não estão uniformemente distribuídas com
    relação à distribuição populacional dos municípios brasileiros. Esses dados, dessa
    forma, não são indicativos de nenhuma fraude ou erro por si só.
    No quesito científico, é importante pontuar que diferente do que defende o

relatório, correlação não implica causalidade, e o relatório não oferece nenhuma
evidência de causalidade entre a versão das urnas e características de seus resultados.
Além disso, o relatório cita vagamente “[…] estudos que mostram indícios fortes de
interferência […]” sem apresentar referências ou passos lógicos que sustentem tais
afirmações.

b) Análise de logs:
A segunda se refere à “impossibilidade” de atrelar logs a boletins de urna, o que
impediria validar resultados das urnas pelos logs. O relatório conclui que essas urnas
deveriam ser desconsideradas na totalização de resultados. Essa impossibilidade
estaria baseada em um comportamento anômalo quanto ao número de identificação
(ID_UE) da urna ao ser logado. Apesar de que é possível que haja algum erro que
tenha resultado na despadronização desse número ao ser registrado, as conclusões do
relatório de que é impossível identificar a urna são distorcidas. As urnas possuem
outros identificadores que são utilizados em conjunto ao código identificador, como
código de município, zona e seção, que quando utilizados em conjunto permitem
relacionar logs a boletins de urna de maneira correta.
Assim, considerando que os logs foram disponibilizados corretamente e que
são identificados pela localização (combinação de município, zona e seção), não há
indícios suficientes para apontar irregularidades nos registros ou não há
impedimentos de análises, como defendem os autores do relatório.
Adicionalmente, o relatório não explora como uma possível falha no código
identificador logado teria qualquer influência sobre votos computados antes de
sugerir uma intervenção no processo eleitoral.
Conclusão técnica:
A conclusão técnica dos signatários é que o relatório é superficial, limitado e
não segue boas práticas de análises técnicas e científicas como criação e teste de
hipóteses, além de não utilizar dados relativos à localização das urnas (município, zona
e seção) – elemento chave para compreender e analisar o cenário eleitoral, tanto para
analisar a distribuição de votos no território nacional e possíveis vieses, quanto para
relacionar logs e urnas. Também apresenta conclusões questionáveis como “[…]
utilizou uma versão de código do programa diferente […]” em face a outras
possibilidades, como falhas de software ou hardware e configurações internas.
Códigos iguais de programas de urna eletrônica podem gerar logs de urna diferentes
em face de diferentes interações e ambientes de execução.

  1. Assim como os autores do relatório, o grupo de engenheiros signatários desta carta,
    não representa o ITA, sendo apenas composto por profissionais formados na
    instituição que não possuem nenhum vínculo ou supervisão para se posicionar em
    seu nome. De forma geral, os signatários e críticos do relatório possuem diferentes
    orientações políticas e trabalham em áreas relacionadas a dados em geral (como
    Ciência de Dados, Inteligência Artificial, Aprendizado de Máquina, Estatística e outros
    temas correlatos).
  2. O grupo de signatários desta carta se disponibiliza, de forma voluntária, a revisar e
    esclarecer eventuais dúvidas relacionadas aos campos da estatística, da análise e da
    ciência de dados seguindo os procedimentos científicos que sejam desdobramentos
    desta carta.
  3. Ao ser procurado e questionado sobre a autoria do relatório, o engenheiro Carlos
    Rocha explicou que até o presente momento não há uma versão final, completa e
    atualizada do relatório – que será disponibilizada apenas em dezembro. Todos os
    comentários presentes nesta carta são baseados no relatório divulgado pela imprensa,
    e aqui referenciado. No evento da publicação de um novo relatório, o posicionamento
    dos assinantes desta carta poderá ser revisto.
  4. A lista de engenheiros do ITA signatários desta carta encontra-se ao final do
    documento no Anexo I.

Atenciosamente,
Signatários da carta.

Contato:
ita.data.community@gmail.com

Anexo I – Lista de engenheiros do ITA signatários da carta

Nome Curso Profissão
1 Caio Araújo Lucena Engenharia Mecânica-Aeronáutica Analista de Investimentos
2 Caio Ishizaka Costa Engenharia Mecânica-Aeronáutica Arquiteto de Dados
3 Carolina Gentil Parente Engenharia Eletrônica
4 Davi Matos Lima de Mesquita Engenharia Eletrônica Cientista de Dados
5 Diogo Lucena Engenharia de Computação Engenheiro de Software
6 Emílio Simão Matos Engenharia de Computação Engenheiro de Software
7 Euben Monteiro Engenharia Mecânica Aeronáutica

Desenvolvedor de SW e Analista
de Dados

8 Fabiano Rocha Engenharia Mecânica-Aeronáutica Gerente de Análises de Dados
9 Felipe Vieira Coimbra Engenharia de Computação Engenheiro de Software
10 Gabriel Hora de Sá Engenharia Eletrônica
11 Gabriel Lucas Gil Secco Engenharia de Computação

Engenheiro de Software e
Pesquisador

12 Guilherme Mattos Ribeiro Perdigão Engenharia de Computação Analista de Dados Sênior
13 Hugo Reis Bittencourt Engenharia Eletrônica
14 Iago Dalmaso Brasil Dias Engenharia Aeroespacial Engenheiro de Dados
15
Iuri Alexandre Cernov de Oliveira
Barbosa Engenharia Aeronáutica Engenheiro de Software
16 João Fernando L. Simões Engenharia de Computação

Sr Manager, Software
Engineering
17 José Danieel Alves Leite Engenharia Mecânica-Aeronáutica Analista de Dados
18 Leonardo Cunha Engenharia de Computação Cientista de Dados
19 Levi Maia Araújo Engenharia Aeroespacial
20 Livia Fragoso Pimentel Engenharia Aeronáutica Cientista de Dados
21 Luan Fernandes Engenharia Civil-Aeronáutica Cientista de Dados
22 Lucas do Vale Bezerra Engenharia de Computação
23 Luciano Holanda Gomes Engenharia de Computação Head de Engenharia
24 Luiz Edmundo Lopes Mizutani Engenharia de Computação Engenheiro de Software
25 Matheus F. S. B. Faria Rodrigues Engenharia de Computação Programador
26 Mohamed Ali Osman Engenharia Aeronáutica
27 Otávio Henrique Ribas Guimarães Engenharia da Computação Engenheiro de Software
28
Rommel Dallagnol

Engenharia de Infra-Estrutura
Aeronáutica

CTO
29 Thais Maria Santos Bezerra Engenharia Mecânica-Aeronáutica Pesquisadora
30 Yu Hao Wang Xia Engenharia Eletrônica Pesquisador