17 de setembro de 2023

Perícia aponta que granadas usadas por Roberto Jefferson foram reforçadas com pregos; tiros causaram 42 perfurações em carro da PF

Autor: Redação

Por Fantástico - Rede Globo

Granadas reforçadas com pregos. Fuzis potentes, que causaram 42 perfurações num carro da Polícia FederalEstes são apenas alguns resultados do trabalho da perícia que reconstituiu o ataque do ex-deputado Roberto Jefferson a uma equipe da PF que foi até a casa dele para prendê-lo, em outubro do ano passado.

O ex-deputado estava armado. Deu mais de 50 tiros contra os policiais federais e lançou três granadas. Roberto Jefferson foi denunciado por quatro tentativas de homicídio. Ele segue preso. No momento, o ex-deputado está internado com autorização do STF em um hospital no Rio. Esta semana, a Justiça decidiu que ele vai a júri popular. O julgamento ainda não tem data marcada.

 

Fantástico teve acesso aos laudos que revelam a brutalidade da ação. Uma agente federal, ferida por Jefferson, conta como escapou da morte. (veja no vídeo acima)

O perito Bruno Costa Pitanga Maia mostra o local, usando tecnologia 3D. Ele conta o que aconteceu depois que Roberto Jefferson ouviu a ordem de prisão.

 

“O Roberto Jefferson apareceu com uma granada na mão e ameaçou jogar nos policiais. Os policiais tentaram argumentar. Alguns segundos depois ele puxou o pino e já jogou nos policiais. Ele puxou um fuzil. Começou a disparar tiros de fuzil contra os policiais, contra a viatura principalmente, ele deu mais de 50 tiros de disparo de fuzil", relata.

 

Os peritos encontraram 42 perfurações de bala só na viatura. Muitos tiros atingiram o banco do carona, até o encosto de cabeça. “Você percebe aqui, ó, muito disparo aqui no teto e o banco, ele está todo furado com disparo. Se tivesse um policial aqui dentro, tinha sido atingido com certeza, até porque essa viatura aqui não era blindada no teto”, completa o perito.

Repórter: Roberto Jefferson alegou no primeiro momento que ele atirou para não pegar, que ele atirou era só para assustar os policiais. A sua análise indica o quê?

 

Perito: Que isso não é verdade. Primeiro que ele deu muito tiro num veículo que tinha um policial atrás, abrigado, e segundo que dois policiais foram atingidos por tiro, por disparo. Na imagem de depois do tiroteio, você vê um córrego de sangue saindo embaixo do carro. Esse sangue veio do policial que estava aqui, que ele sangrou muito.

A perícia também analisou os estilhaços das granadas usadas no crime. Elas eram de luz e som, e em tese teriam apenas efeito moral. Mas a perícia descobriu que as três granadas foram modificadas. Pedaços de pregos cortados foram colados nos explosivos com uma fita adesiva.

Para verificar o estrago que as granadas modificadas poderiam fazer, os peritos reconstituíram o que aconteceu. Pegaram uma granada idêntica, colaram pregos do mesmo modelo encontrado na cena do crime com uma fita adesiva semelhante. Depois filmaram a granada sendo detonada com uma câmera que grava imagens em alta velocidade.

Segundo os peritos, com a explosão, o fragmento de um dos pregos atingiu a velocidade de mais de 280 quilômetros por hora.

 

“A gente calculou qual seria a energia cinética associada a essa velocidade, e se essa energia cinética ela teria condições de causar desde lesões graves até a morte. E comparando com dados que a gente encontra na literatura, sim, lançar um prego nessa velocidade, dependendo da área do corpo que ele atingir, pode causar até a morte”, destaca Michele Avila dos Santos, perita criminal federal.

 

 

A perícia também descobriu que duas das três granadas arremessadas pelo ex-deputado tinham sido compradas pela PM do Rio de Janeiro.

 

Relato da policial atingida

 

A policial Karina Lino de Miranda foi atingida por dois tiros no dia do crime. Em um áudio enviado ao Fantástico, ela fala sobre a ação.

“Eu correndo para me abrigar, senti um impacto muito forte, que me arremessou ao chão. Foi quando eu caí e naquele momento começou a sangrar a região da cabeça. E logo depois começou uma ardência muito grande na região do quadril. Eles até imaginaram que tinha um projétil alojado, tinha um buraco aberto. Depois, vendo meu coldre, minha calça, vendo o estado que ficou minha arma, porque o cano dela foi destruído, é que a gente chega a conclusão que, na verdade, foi um tiro que atingiu a região, e milagrosamente eu fui salva pelo cano da minha arma, que serviu como um escudo pra mim”, relata.

A policial que ficou ferida preferiu não gravar entrevista. A advogada dela falou com o Fantástico.

“Ela teve danos físicos, teve danos estéticos porque ela está com cicatrizes e ela vai ficar com cicatrizes. E ela tem o dano, que acho que é o maior dos danos, que é o psicológico. Na região do quadril e no rosto, ela teve perda de sensibilidade a toque, calor e frio. Além disso, também a marca no rosto lembra diariamente a ela a violência que ela sofreu”, diz Estela Nunes.

 

 

O que dizem as autoridades

 

A Polícia Militar disse que ainda não foi notificada pela PF e assim que for, irá instaurar uma investigação sobre o caso. E que o lote das granadas venceu em 2015. O Fantástico perguntou o que é feito com explosivos que perdem a validade, mas a PM não se manifestou.

“Todos os laudos que foram realizados e os exames que foram feitos comprovaram efetivamente que os 60 tiros foram na direção para os policiais federais, as granadas foram adulteradas com pregos, ampliando o poder de letalidade delas e foram também direcionadas para os policiais. O acusado com sua conduta ao mirar os policiais no mínimo assumiu o risco de produzir o resultado morte", diz Luciana Portal Gadelha, procuradora da República.

 

O que diz a defesa de Roberto Jefferson

 

Em nota, os advogados de Roberto Jefferson disseram que ele jamais teve intenção de provocar ferimentos graves nos policiais federais e que apenas buscou impedir o cumprimento de uma decisão ilegal e injusta.

A defesa diz ainda que apenas uma granada foi modificada com pregos devido a ameaças que ele vinha sofrendo nos últimos anos.

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