12 de outubro de 2023

Quando a dissonância cognitiva do Plano Palumbo em Israel e o antipetismo de parte da imprensa local foram salvos da própria dissonância cognitiva pelo PT; agora só resta a vitimização

Autor: Daniel Menezes

O conflito deflagrado em Gaza pela carnificina produzida pelo ato terrorista do grupo Hamas guardou um capítulo que tangenciou terras potiguares. No momento em que o mundo se preocupava com o cenário de guerra já estabelecido na região, um grupo de turistas natalenses em Israel fazia vídeos para mostrar, não apenas que estava tudo bem - o que é perfeitamente compreensível -, como também todo o glamour da viagem, com direito a menção ao lindo cair do sol, comes e bebes e caminhadas. Era a dissonância cognitiva gerada pela cultura dos cafés de Tirol do Plano Palumbo apresentando seu cartão de visitas. É base do palumbismo de nossa fazenda iluminada tentar se sobressair dos demais com demonstrações de requinte e finesse desamparadas de qualquer perspectiva cosmopolita. No presente contexto ao arrepio mesmo do reles semancol como rapidamente se escancarou.

Mas enquanto o grupo instragamava no cenário de guerra por lá, por aqui representantes da mídia bolsonarista não deixaram a peteca cair. Tentando ajudar a agência que organizou a viagem, disseram que a empresa tinha tudo sob controle e passaram a fazer piadas com o esforço do governo brasileiro, que já aquela altura dos acontecimentos, se mobilizava para mandar aviões com o intuito de repatriar os seus cidadãos. Isto é, aproveitaram a situação para, sob o pretexto de demonstrar solidariedade ao empresário, destilar o veneno do antipetismo, igualmente demonstrando uma completa desconexão diante da gravidade dos fatos.

Pausa para um parêntese. A agência de turismo não tem qualquer responsabilidade. Diante de uma excursão já em curso, é impossível antecipar um atentado terrorista. A agência estava ali realizando um negócio legítimo, que tem demanda e acabou sendo usada pela imprensa bolsonarista local, para servir de ponta de lança para atacar o PT. O nome da empresa foi envolvido numa ambiência de politização, o que não ocorreu por iniciativa própria.

Retornando. As piadas da imprensa bolsonarista local contra o esforço brasileiro de repatriação se revelaram absolutamente fora de hora. Mais. Demonstraram que, quem as fez, deve ter como fonte os grupos e correntes de whatsapp e influencers histriônicos de extrema direita que não são muito pródigos da arte de falar a verdade. 

As ações do governo brasileiro se revelaram acertadas. Tanto que o Brasil foi o primeiro a retirar os seus da região e vem recebendo pedidos de outros países para repatriar cidadãos de outras nações. 

Situação resolvida, natalenses trazidos de volta pelo governo. Restava agora o silêncio um tanto quanto envergonhado, mas honesto de que muito foi dito e feito distante de qualquer razoabilidade. Afinal, é obrigação do governo trazer do ambiente de guerra os seus. Não importa quem. Só que aí não seria o Plano Palumbo de um lado e a imprensa bolsonarista que espalhou ivermectina e conteúdo antivacina durante uma crise de saúde pública do outro.

Os palumbenses agradeceram a um prefeito do interior de São Paulo pela repatriação e a Agência de Turismo, ambos com poder semelhante de remediar o cenário que o este missivista tem de alterar o eixo da terra. A bizarrice inicial cedeu espaço para a comédia. E a imprensa bolsonarista, que mais uma vez lançou mão do seu kit completo - notícias falsas, equivalências absurdas, descontextualizações grosseiras e simplificações do que tem natureza complexa -,  esquece tudo que falou e diz que os palumbenses estão sendo vítimas do rancor alheio porque são ricos.

Não esperava algo diferente. As demonstrações dadas já apontavam em tal direção. Mas o mesma situação irá se repetir na análise de outros temas. E é preciso ficar atento ao modus operandi de acanalhação dos assuntos que são debatidos na esfera pública potiguar. 

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