30 de abril de 2024

Petrobras atrasa reajustes nos combustíveis, mas não deixa de repassar alta, diz estudo

Autor: Redação

Do g1 - A Petrobras tem atrasado os reajustes no preço dos combustíveis em cerca de um mês, mas não deixa de repassar no Brasil os aumentos do mercado internacional, segundo estudo da Leggio Consultoria com dados até janeiro de 2024.

Há quase um ano, em 16 de maio, a Petrobras anunciava a mudança na sua política de precificação dos combustíveis, que passaria a ter o preço internacional como um dos componentes, mas não o único. A medida foi anunciada como um “abrasileiramento” dos preços.

No entanto, o estudo da Leggio Consultoria, obtido com exclusividade pelo g1, mostra que a estatal tem mantido o valor dos combustíveis pouco abaixo do preço de importação --cerca de 5% menor.

Ou seja, apesar de a Petrobras segurar os reajustes por cerca de um mês, os aumentos são repassados ao consumidor a um preço pouco abaixo dos importadores.

“O ponto é que, quando você está com o preço em alta, essa variação no preço a Petrobras só repassa cerca de um mês depois”, afirmou o sócio da Leggio, Marcus D’Elia.

 

Repasse das reduções

 

Porém, quando o movimento é de queda no mercado internacional, a estatal repassa a redução com mais rapidez. Segundo D’Elia, ao segurar o aumento e repassar rapidamente a redução, a Petrobras não toma prejuízo.

“Não dá para dizer que essa política está prejudicando a companhia. Eu interpreto como um posicionamento estratégico de mercado. A Petrobras, eu diria, está funcionando corretamente como uma empresa que compete no mercado, isso é muito positivo para os brasileiros”, declarou D’Elia.

Na verdade, a política da estatal ajuda a evitar o repasse de instabilidades na cotação dos combustíveis, como picos muito altos de preço no mercado internacional. É a margem de lucro desses picos que a Petrobras deixa de faturar.

“Ela [a Petrobras] só deixa de ganhar a diferença entre o pico do preço dela e o pico do mercado internacional. O que eu diria que é uma coisa positiva, ou seja, ela não está trazendo a volatilidade para o preço nacional. Mas está deixando de ganhar muito pouco”, declarou.

A consultoria comparou os preços médios praticados pela Petrobras para o diesel e a gasolina com os valores de paridade de importação publicados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), no período de 2020 a janeiro de 2024.

 

Importadores

 

O presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sergio Araujo, diz não ver repasse das altas. Segundo o executivo, a Petrobras tem segurado o reajuste da gasolina, por exemplo, desde outubro de 2023.

A Abicom calcula a paridade de importação diária --diferentemente da ANP, que é mensal-- refletindo instabilidades no mercado internacional.

Na terça-feira (30), a defasagem média entre o preço praticado pela Petrobras e o do mercado internacional era de 5% para o diesel e 14% para a gasolina.

"O último reajuste na gasolina que a Petrobras deu foi no dia 21 de outubro de 2023. Não existe essa avaliação e alinhamento mensal, estamos falando que tem aí quase sete meses sem reajuste”, declarou.

 

Política de preços igual à de 2022

 

O estudo da Leggio também aponta que a política de preços da Petrobras é a mesma desde 2022. Ou seja, a estatal já havia deixado de estar completamente alinhada ao preço internacional no último ano do governo anterior.

“Na política dela, ela evita repassar a volatilidade é por isso que os picos de preço não aparecem, ou seja, você nunca tem um pico tão alto quanto o que foi o da paridade internacional. Isso é algo que realmente a Petrobras está fazendo e que não fazia antes, em 2020 e 2021, mas já fazia em 2022 e continuou fazendo em 2023”, disse D’Elia.

O presidente da Abicom também observa que a paridade de importação havia deixado de ser seguida já na gestão anterior, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Tivemos desde 2019 a Petrobras consistentemente praticando preços bem abaixo da paridade e com períodos longos também”, afirmou.

 

O que é a paridade de importação

 

Nos últimos anos, a Petrobras adotava a chamada “política de paridade de importação”. Isso significa que o preço dos combustíveis vendidos para as distribuidoras no Brasil era determinado pelo custo de importar e trazer esses produtos até os portos nacionais.

A estratégia considerava o valor de cotação do dólar e do barril de petróleo, além dos gastos com transporte, taxas e seguros. Isso fazia com que a estatal repassasse instabilidades ao mercado interno.

Mas a política de preços mudou em maio de 2023, para atender a um anseio do governo, que quer derrubar os preços dos combustíveis.

Na ocasião, a Petrobras explicou que os seus preços para as distribuidoras estariam no intervalo entre:

 

  • o maior valor que um comprador pode pagar antes de querer procurar outro fornecedor
  • e o menor valor que a Petrobras pode praticar na venda mantendo o lucro

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