30 de novembro de 2022

Covidei pela primeira vez e me sinto um privilegiado

Autor: Redação

Peguei covid pela primeira vez. Achei até que fosse a minha tradicional crise alérgica de sinusite. Só tive febre no primeiro dia e depois coriza e cansaço. Com quatro doses, estou no quarto dia dos sintomas e eles já começaram a ceder.

Depois do teste positivo, passei a tarde pensando na minha situação. Ora, acompanhei freneticamente tudo que saiu sobre a covid desde janeiro de 2020 quando comecei a prestar atenção no então desconhecido vírus. Virei piada entre alguns colegas que diziam que minhas preocupações careciam de fundamento. Consumidor da revista super interessante na adolescência, sempre morri de medo de doenças. Em 1992, fiquei noites sem dormir após ler uma reportagem sobre um surto de ebola na África. Não foi nada tranquilo enfrentar uma pandemia. Me sinto um privilegiado.

Explico. Tive a oportunidade – sim, a oportunidade – de não pegar o coronavírus até me encontrar completamente imunizado pela vacina. Outros não conheceram a mesma possibilidade. Por trabalhar em home office, fiz de tudo para não me expor a qualquer risco pelo maior tempo possível. E deu certo. Era o mínimo que podia fazer pela minha própria saúde e para não retirar a vaga num hospital de quem de fato precisava.

Também não me deixei enganar, levado por dissonância cognitiva e/ou viés de confirmação, por falsas curas. Quem infelizmente caiu nessa, acabou relaxando nos cuidados e adoecendo. Os estudos hoje são fartos no sentido de apontar – quem acreditou que existia cura e/ou proteção farmacológica contra a covid-19 morreu mais do que quem não se distanciou do recomendado pelas agências sanitárias do Brasil e do mundo.

As informações mentirosas propagadas por quem todo mundo sabe fizeram muitas vítimas. Até hoje, os casos que agravam vêm de crianças e adultos que não se vacinaram ou não tomaram as doses de reforço. Em recente levantamento publicado para o estado do Rio de Janeiro, 90% dos que terminam hospitalizados se encontram em tal condição. Há um exemplo assim na minha família – um jovem sem qualquer comorbidade que faleceu quando estávamos na terceira dose do imunizante. Já ele não carregava nenhuma no corpo. Imaginou ser de boa fé as mensagens dando conta de que as vacinas eram experimentais e perigosas, não se imunizou e, após algumas semanas de internação, faleceu. Sim, morreu biologicamente de covid. Mas sua vida foi tirada por quem, por ter mais recursos políticos, financeiros e midiáticos do que ele e preocupado em tentar justificar o atraso na vacinação no Brasil, o convenceu de que se vacinar era algo negativo.

Contrair uma patologia, não importa qual, é sempre ruim. Nesse sentido não há aqui qualquer inclinação ao negacionismo científico propagado pelo governo federal de que “a maior vacina é o próprio vírus”. Só o de poder dizer: sim, covidei. Mas ela de fato para mim não está passando de uma gripezinha. Graças à ciência.