27 de dezembro de 2022

Livro discute fim do sofrimento evitável

Autor: Redação

É possível pensar no fim do sofrimento humano, mesmo o evitável? Para o sociólogo Alípio de Sousa Filho, do Instituto Humanitas da UFRN, a resposta é sim, embora seja necessário considerar algumas condições. Seu pensamento está condensado em oito capítulos de seu novo livro: “Utopia para o presente: pelo fim de condições que produzem o sofrimento humano evitável”. Recém-publicado pela Paco Editorial em diversos sites de vendas, o trabalho terá lançamento presencial no dia 3 de março de 2023, em Natal, em parceria com a Cooperativa Cultural.

Utopia para o presente

Para alcançar essa utopia, Alípio sugere pensar que certos sofrimentos vividos pelas pessoas surgem de certas condições e contextos sociais, políticos ou pessoais, o que permite pensar que são evitáveis caso essas condições e contextos sejam modificados ou deixem de existir. “Assim, por exemplo, pessoas que sofrem sentimentos de opressão, humilhação ou exclusão por preconceito e discriminação baseados em status de classe, gênero, sexualidade, origem étnico-cultural, religião etc., e que, muitas vezes vivem esses sentimentos como inevitáveis, podem muito bem deixar de vivenciá-los se as condições sociais que produzem e sustentam a realidade de seus sofrimentos forem abolidas”, provoca.

No dicionário, utopia significa “lugar ou estado ideal” e costuma descrever uma sociedade imaginária detentora de qualidades altamente desejáveis. Mas se engana quem pensa que este é um livro conformista. De acordo com a editora, trata-se de uma obra para aqueles que sonham com mudanças que realmente estejam à altura do humanismo. “É um apelo para a necessidade de mudarmos e abolirmos instituições, de promovermos uma ‘revolução total’, do simbólico ao material, para dar lugar a uma nova utopia. Uma Utopia em que palavras como felicidade, compaixão e bem-estar não existam como meros conceitos abstratos, mas como conceitos vividos”, ressalta. A Paco Editorial reforça ainda que o livro possui narrativa vigorosa, ideias reavaliadas e reinseridas em novos contextos e um grande apelo humanista. 

Alípio Sousa define o que pensa e escreve hoje como um pensamento construcionista crítico-radical. Um pensamento teórico-filosófico-científico que procura demonstrar que a realidade social é sempre uma construção humana, cultural e epocal. “E, por isso mesmo, inteiramente passível de ser modificada, substituída. Isso é um fato, um dado ontológico e antropológico. Nada que existe repousa sobre algum fundamento último que corresponda a alguma necessidade.  A ‘ilusão necessitarista’ – como a denunciou o filósofo Quentin Meillassoux – é o que sustenta o que, desde Marx, chamamos ideologia. E o meu construcionismo crítico-radical é principalmente a crítica à ideologia, a toda ilusão ideológica, que pretende fazer crer que a realidade existente é necessária, toda, completa”, discorre. 

Bandeira ucraniana acenada em meio à destruição provocada pela guerra
Bandeira ucraniana acenada em meio à destruição provocada pela guerra – Metin Aktas/Anadolu Agency via Getty Images

O livro foi escrito nos anos de retorno do Talibã ao governo do Afeganistão, momento de muitos movimentos de imigrantes de todas as partes, mas também atravessou o período mais crítico da pandemia da covid-19 e início da guerra da Ucrânia. “Busquei escrever sobre o que podemos pensar e fazer para enfrentar o peso de certas convenções morais, culturais e históricas que sustentam instituições que somente impõem sofrimento evitável. Nossas sociedades devem pensar, com urgência, sobre o fim de certas instituições sociais que somente existem para o benefício e o privilégio de poucos e para o sofrimento de largas maiorias. Um dos temas que abordo é o da abolição de instituições que mantêm a fome. Um fato em nossas diversas sociedades que não pode mais permanecer”, reforça Alípio Sousa. 

Parte do pensamento que compõe a ideia do livro é compartilhada nas aulas do Instituto Humanitas, lugar onde suas ideias ganham atenção e contribuição de um auditório atento. “O que penso e escrevo levo para as minhas aulas. Ensinar é sempre um ato que tem a pesquisa e o estudo teórico-filosófico-científico como base. Imagino que é assim com todos os professores e pesquisadores. Aliás, a universidade é exatamente esse lugar em que pesquisa e ensino andam juntos”, completa.

O livro Utopia para o presente: pelo fim de condições que produzem o sofrimento humano evitável está disponível para venda no site da Paco Editorial, neste link.