6 de janeiro de 2023

Saiba porque a cobrança do estacionamento do Midway pode sufocar ainda mais o trânsito da região e não deveria ser uma decisão apenas da empresa

Autor: Redação

Se uma parcela dos carros que hoje estaciona no Midway resolver ficar ali no entorno, com a cobrança de estacionamento inicial de 10 reais pelo shopping, vai piorar o que já é péssimo. Cabe lembrar que na época que o Midway foi construído, ele foi reprovado por todos os órgãos urbanísticos porque travaria o principal cruzamento de Natal. E travou.

Diante da situação, a então governadora Wilma de Faria chegou a oferecer alternativas pra ele ser construído no entorno de Natal, mas a Riachuelo ameaçou levar para o Ceará. Daí ela recuou e permitiu.

A construção é um show de irregularidades. Preste atenção, caro leitor, que o midway não tem recuo, não tem nada. Fica praticamente nos pés da principal via de escoamento e locomoção de Natal. O adensamento sufoca o acesso as zonas norte e sul. Tudo foi devidamente alertado na época. A não cobrança do estacionamento foi uma medida simpática do grupo naquele contexto, em parte para reverter a imagem sobre esse imbróglio.

Cabe lembrar também que foi levantado que aquele terreno foi dado pelo estado pra produção fabril e não pra construir um shopping. Ali já foi uma fábrica. Só que foi depois desativada, os prometidos empregos mandados para fora fora do RN e o terreno nunca foi devolvido ao erário.

Diante de todo o debate, Flávio Rocha, um dos filhos do dono do grupo empresarial, deu algumas entrevistas com ameaças de levar o shopping para o Ceará. Com isso, a proposta de construção no entorno da cidade, um meio de preservar o investimento sem travar o trânsito da capital, os transtornos previstos para quem quer ir até a zona norte ou sul, os laudos que reprovaram o empreendimento e o desvio de finalidade do terreno foram esquecidos.

Natal é uma cidade sem memória e sem lei. Essa história tem apenas 18 anos. O Midway é privado? Óbvio. Tem como alterar a decisão deles? Improvável. Mas fica a reflexão – uma empresa tomará uma decisão num terreno dado pelo estado e gerará ainda mais transtornos para a cidade. Imagine a situação da Bernardo Vieira, da Salgado Filho e da Romualdo Galvão, hoje já artérias de trânsito bem obstruídas. Como elas ficarão?

Há gente defendendo a decisão autônoma da iniciativa privada, que pelo esquecimento, radicalismo ou ignorância dos propagadores de tal tese, não enfrenta o fato de que a ação privada lá atrás se deu em conjunto – por omissão – do poder público. Envolveu, na verdade e num sintoma do que é o liberalismo à brasileira, toda a cidade. Mas, ora, quem quer criar empregos deve sim receber todas as possibilidades e incentivos, só que dentro da lei. Não foi o caso do midway mall. No mínimo um debate mais amplo sobre trânsito, mobilidade e situação do adensamento na região deveria ocorrer.

DETALHE

A UNP está levando toda a operação de sua unidade na avenidade Engenheiro Roberto Freire para a sua sede na Salgado Filho. Previsão de mais alguns milhares de carros se engalfinhando para estacionar na região.