20 de janeiro de 2023

As denúncias contra Ricardo Valentim começaram a fazer água em menos de 24 horas

Autor: Redação

Ontem (19), a polícia federal, a controladoria geral da união e o ministério público federal deflagraram a operação chamada de Faraó, que teve como alvo uma empresa de publicidade, o Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da UFRN e a Fundação norte-riograndense de Pesquisa e Cultura. O ponto da operação é o contrato “SÍFILIS, NÃO” captado pelo LAIS junto ao ministério da saúde por intermédio da Funpec. A centralização da divulgação da denúncia na pessoa do pesquisador Ricardo Valentim, que hoje lidera o LAIS, não faz jus ao próprio corpo do que fora até agora publicizado. Em alguns casos, revela apenas ignorância sobre o mundo acadêmico.

Primeiro, é preciso separar tudo e se você, caro leitor, acompanhar o caso com calma, perceberá que, na verdade, o grosso da operação ocorre por suspeitas contra a empresa contratada para fazer a parte de publicidade institucional nacional contra a Sífilis. A quase totalidade do suposto prejuízo se encontra aí. Na denúncia, há alegação de que servidores públicos participaram do favorecimento. Além disso, que a empresa teria feito simulação de licitação e subcontratações irregulares. Apesar de constar no texto, pouco se falou em Natal a respeito do fato de que a empresa teria pulado do ministério da educação para o ministério da saúde, fazendo a migração do suposto esquema. Ou seja, o grosso da denúncia envolve o governo Michel Temer durante o ano de 2017, que foi apoiado pela extrema direita local, e não a UFRN.

Em toda a cobertura, o alvo fundamental foi o pesquisador foi Ricardo Valentim, contrariando a hierarquia dos supostos danos causados pelo contrato. Contra ele, até aonde este blogueiro teve conhecimento até agora, pesa o recebimento de diárias em duplicidade, uso de recursos para pagar estadia e alimentação de pessoas alheias ao projeto e custeio de eventos acadêmicos distantes da temática “Sífilis, não”. São questões graves e ele terá de se explicar. Mas trata-se, logo de partida, de algo infinitamente menor do que ter participado de um alardeado rombo de 26 milhões de reais.

Ricardo Valentim virou alvo pela relevância que ganhou na esfera pública estadual, principalmente depois que participou da montagem dos sistemas de informação do governo estadual durante a pandemia e pelas críticas que fez ao modo como o governo federal (não) geriu a situação. Ele entrou na mira palumbista por ser da UFRN, instituição sintomaticamente odiada por um espectro que tem como base a luta ideológica anticiência – e que muita gente não aceita que tem relevância nacional -, e porque a oposição tenta fazer centralizar a situação em alguém que teve papel de relevo em parcerias com o governo estadual.

O problema é que, no discurso, há a revelação de profunda ignorância sobre como funciona o universo acadêmico. Este é o segundo ponto. Sim, eventos acadêmicos são caros, se usam muitas passagens e diárias. Isto porque, trazer pesquisadores de outros países envolve recursos. Você, caro leitor, pode até discordar e produzir uma condenação moral a respeito do assunto, mas é assim – um pesquisador canadense, de reconhecimento internacional, não virá à Natal para ficar na casa do estudante da UFRN e comer prato feito. Ele terá suas despesas de locomoção, estadia e alimentação pagas pelo proponente. Afinal, veio compartilhar conhecimento extremamente especializado. O mesmo acontece no sentido inverso – mandar pesquisadores para fora do país também não é nada barato.

Daí que não passa de mero moralismo vazio criticar porque pesquisadores foram comer no Camarões ou no Nau. Trata-se de jogar para plateia para tentar fritar os envolvidos. Cultivo fortes suspeitas de que, em eventos do jornalismo e do mundo jurídico também custeados com dinheiro de instituições, a qualidade consumida da comida não é distinta. E se a verba de custeio e a diária estavam dentro do estabelecido, não importa aonde fulano e cicrano foram comer. Alegar que seminários internacionais em Natal tiveram ônus elevado é chover no molhado. Sim, aos olhos de um leigo que não entende o retorno que gera a troca de conhecimento entre regiões e nações na produção de novas políticas públicas, por exemplo, eles podem ser percebidos como desperdício. Só que a verdade não é essa.

Mas não foi nem essa reprovação moral vazia que despertou curiosidade, mas as afirmações de que determinadas atividades ou produções não eram de cunho técnico-científicas. Qual instituição determinou isto? O mundo jornalístico e o jurídico não têm qualquer habilitação para fundamentar tais pontos. Ainda mais na área de sistemas de informação e saúde. Durante a pandemia, por exemplo, foi possível observar alguns agentes de tais campos, defendendo remédios ineficazes, fazendo ataques contra dados estatísticos básicos de controle epidemiológico e até contra vacinas. Durante a pandemia, muitos revelaram que não sabem o que é uma evidência científica. É preciso compreender como chegaram a tais conclusões.

O post não é feito para desacreditar o trabalho de quem quer que seja, mas apenas para dizer – calma, gente. Será preciso aguardar bastante para saber o que de fato ocorreu e quem tem razão em toda esta história. Há muitas incompreensões e interesses ideológicos e políticos em jogo. E, pelo que fora demonstrado até agora, há falta de foco na mira dos principais envolvidos e nos danos causados.

Cabe lembrar do caso do assim chamado escândalo do SIGAA/UFRN para ter a exata dimensão do quanto a parcimônia é importante na atual conjuntura. Em 2016, membros da UFRN foram denunciados por gerar um prejuízo de mais de 20 milhões de reais pelo modo com que geriram contratos relacionados ao sistema de informação mencionado. Em 2019, após todo um périplo de ataques, eles foram inocentados.