13 de abril de 2023

A ação do SETURN contra o prefeito de Natal marca o fim de uma era

Autor: Redação

O sindicato dos empresários de transporte público entrou com uma representação contra o prefeito Álvaro Dias junto ao tribunal de contas do estado. Motivo: eles querem que o prefeito deflagre a licitação do transporte. Hoje, eles rodam de forma irregular.

Caro leitor, a licitação nunca foi uma preocupação do SETURN. Enquanto a operação foi lucrativa, eles não se incomodaram em atuar sem contrato algum. Por que agora é diferente? Porque esse modelo que vigorou em Natal até hoje se esgotou.

A lógica agora é outra. Os insumos de produção tiveram uma elevação nos últimos anos e o sistema perdeu muitos passageiros para saídas privadas (bicicleta, andar à pé, moto e transporte por aplicativo). Antes, possíveis prejuízos eram compensados por aumentos da passagem. Agora, esse movimento gera um ganho de valor, por um lado; mas perda de mais passageiros por outro, pois a elevação da tarifa abre espaço para que as pessoas busquem adquirir uma moto ou mesmo usar o serviço de Uber moto. O mercado secou.

A letargia do poder público e a acomodação do seturn geraram o próprio enfraquecimento dos envolvidos. A prefeitura não consegue mais regular sem lançar mão da ajuda de outros entes e da ideia de subsídio (o que ela sozinha não conseguiria arcar). Já o Seturn perdeu o recurso político de manter os seus lucros a partir da pressão pelo crescimento da tarifa. A saída tem sido uma gambiarra, que é cortar linhas deficitárias. Só que, também com isso, o sistema vai perdendo credibilidade e abre mais espaço para outras saídas de mobilidade.

Penso que é improvável que o sistema se mantenha sem subsídio. No Brasil, a tarifa cobre toda a operação. Lá fora, os grandes sistemas de transporte público recebem mais da metade dos seus recursos do poder público e a partir da integração com outras modalidades. Ocorre que Álvaro Dias, em processo de fazer seu sucessor para se manter vivo politicamente, pode se enrolar indo por aí, ficando a mercê do governo federal e/ou do estado. Pedirá ele ajuda?! Trata-se, afinal, de uma operação política delicada diante de um sindicato muito mal visto pelo cidadão, mas que objetivamente não é mais nem sombra do “bicho papão” do passado.

Fica a marca. A ação do sindicato é uma mudança na correlação de forças, mas a luz seguirá fraquinha, lá no fim do túnel. Sem a certeza de que estará acesa no momento conveniente.