21 de abril de 2023

Os sinais da Petrobras de Jean Paul Prates para o mercado de gás

Autor: Redação

PIPELINE Petrobras completa três meses sob comando de Jean Paul Prates com sinalizações importantes sobre a posição da empresa em temas como venda de ativos; preços; e ampliação da infraestrutura.

ArcelorMittal entra no mercado livre. Crescem as vendas de caminhões a gás. ANP aprova plano de investimentos da Origem em AL, com estocagem. E mais:


Olho na Petrobras

A gestão Jean Paul Prates completa, em abril, três meses. Embora a transição de comando da empresa ainda esteja em curso – a eleição do novo conselho acontece no próximo dia 27 – a petroleira já deu alguns importantes sinais sobre como pretende se posicionar no gás natural.

E para aonde caminha a Petrobras, num momento em que a abertura do mercado dá seus primeiros passos? Este é o nosso assunto de hoje.

gas week foi concebida como um espaço de informação e debate sobre os avanços do Novo Mercado de Gás, com foco na movimentação dos novos entrantes. Mas num setor ainda concentrado, não dá para ignorar os passos de seu agente dominante.

Os planos da Petrobras definem, muitas vezes, as condições de base para atuação dos demais atores.

A seguir, apresentamos, em cinco pontos, o que a Petrobras de Jean Paul Prates já sinalizou e seus possíveis desdobramentos para a abertura do mercado. Boa leitura!

1) A venda de ativos

A Petrobras suspendeu, a pedido do governo, o programa de desinvestimentos e vai reavaliar o seu pacote de ativos à venda.

Mas Prates já sinalizou, claramente, que vai contestar os compromissos assumidos pela empresa com o Cade, no governo Bolsonaro, para alienação dos ativos de transporte e distribuição de gás.

Desde que o termo de compromisso com o Cade foi assinado, em 2019, a Petrobras saiu integralmente das transportadoras NTS e TAG e da distribuição de gás, a partir da venda da Gaspetro.

Ficou pendente, contudo, a alienação da TBG. Prates, aliás, já defendeu publicamente o fim da venda da transportadora.

A companhia também pôs o pé no freio nas negociações dos campos terrestres — que, nos últimos anos, permitiram o surgimento de importantes players do novo mercado de gás, como a PetroReconcavo, Origem Energia, 3R Petroleum.

O que isso pode significar? Embora a companhia já tenha garantido que preservará as negociações dos contratos assinados, ainda há ativos onshore importantes que podem ficar pelo caminho – como o polo Bahia Terra, que chegou a ter sua venda negociada com um consórcio formado por Eneva e Petrorecôncavo (mas sem contratos assinados).

Fora isso, o recuo na venda da TBG suscita questões concorrenciais e regulatórias. Vai, por exemplo, na contramão do desenho de mercado pretendido pela Nova Lei do Gás, que incorporou o conceito da desverticalização das transportadoras.

Além disso, quando a Petrobras assumiu o compromisso de sair do transporte de gás, o Cade, em troca, arquivou uma série de investigações sobre supostas condutas anticompetitivas da empresa no mercado de gás.

O órgão antitruste já cobrou, ao aprovar o adiamento da venda da TBG, que a Petrobras “se porte de maneira cooperativa e transparente, promovendo ações que demonstrem seu efetivo compromisso em realizar os melhores esforços para alcançar o resultado pretendido”: a abertura do mercado.

A ver como se dará essa correlação de forças entre a Petrobras e o Cade.

2) A nova política de preços

Prates afirmou esta semana que a Petrobras vai buscar uma nova fórmula de preços para o gás natural. A exemplo da discussão sobre os preços dos derivados de petróleo, a empresa quer dar mais peso aos custos domésticos de produção na precificação da molécula do gás.

“Vamos trabalhar, tanto nos combustíveis quanto no gás natural, nesta nova ótica de que o mercado brasileiro tem um preço próprio, que é composto ponderadamente do que o próprio mercado brasileiro produz, e do que é complementar, que vem de volumes importados, seja da Bolívia ou via GNL”, disse.

Os contratos da Petrobras, para fornecimento de gás às distribuidoras estaduais, seguem hoje uma fórmula de precificação atrelada à variação do petróleo (Brent) e à taxa de câmbio.

O que isso pode significar? Que caminho a Petrobras tomará na precificação do gás ainda não está claro. O certo é que, como agente dominante, a empresa funciona como um importante balizador do mercado e seus preços podem acabar estabelecendo as condições de base para os demais supridores.

3) A reaproximação com a Bolívia

O presidente da Petrobras também afirmou esta semana que a companhia tem interesse em discutir eventuais parcerias com a Bolívia, para exploração de gás no país vizinho – que tem encontrado dificuldades de repor suas reservas e conciliar o aumento da demanda interna com as exportações para o Brasil e Argentina.

Prates dá, assim, um sinal de reaproximação com o país vizinho – que, nos últimos anos, diante da redução gradual da presença da Petrobras no setor de gás, vem buscando diversificar sua carteira de clientes no mercado brasileiro.

As declarações de Prates vêm em linha com a aproximação de Lula com os países vizinhos. Posição que contrasta com o isolamento diplomático do governo Bolsonaro — que, em 2022, levou a Bolívia a preterir o Brasil, no envio de gás, após fechar acordo para aumentar as exportações à Argentina, presidida por Alberto Fernández.

O que isso pode significar? Alguns players do mercado brasileiro – CDGN, Tradener, GasBridge e Delta – têm contratos interruptíveis com a boliviana YPFB e miram oportunidades de importação.

O risco é que, uma vez disposta a uma reaproximação, a Petrobras, principal cliente da Bolívia, acabe monopolizando novamente as atenções do país vizinho, reduzindo (ou fechando) o espaço para os novos agentes.


4) A expansão da infraestrutura

Prates já afirmou que a empresa “não reinjeta gás porque gosta” e que a Petrobras está disposta, sim, a investir em projetos de infraestrutura para escoar o gás offshore, nos próximos anos.

A declaração ocorre em meio a críticas do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), à falta de investimentos em infraestrutura. O aumento da oferta de gás nacional a preços competitivos é o mote do programa Gás para Empregar, anunciado em março pelo governo federal.

O presidente da Petrobras disse esta semana que a empresa tem três grandes projetos de novos gasodutos de escoamento para os próximos anos:

  • Rota 3 (2024), com uma capacidade de 18 milhões de m3/dia no pré-sal da Bacia de Santos;
  • o gasoduto do BM-C-33 (2027), com capacidade de 16 milhões de m3/dia na área de Pão de Açúcar, operada pela Equinor no pré-sal da Bacia de Campos;
  • e o gasoduto de Sergipe Águas Profundas (2028), com capacidade para mais 18 milhões de m3/dia.

O que isso pode significar? A entrada de volumes adicionais de gás, se competitivo, pode ajudar a desenvolver um mercado consumidor estagnado na última década. A promessa do governo é reindustrializar o país. Esses projetos também possuem sócios, como Shell, Equinor e Repsol – o que pode representar também mais gás de terceiros no mercado.

Mas ainda há muitos pontos abertos nessa história: a PPSA vai mesmo fazer o swap do óleo da União no pré-sal por gás, absorvendo, portanto, parte do gás dos demais sócios? Como se dará, nesse caso, a dinâmica de preços do gás da União? E o da Petrobras? Esses preços desestimularão a participação dos fornecedores privados? A ANP seguirá com algum programa de desconcentração (gas release)?


5) O gás para petroquímica e fertilizantes

A Petrobras confirmou esta semana que estuda voltar a investir em petroquímica. A empresa avalia mudar o escopo do Polo Gaslub (ex-Comperj) — hoje voltado para processamento de gás e produção de lubrificantes — para produzir produtos petroquímicos de segunda geração.

Faz sentido, dentro dessas pretensões, que a companhia utilize o gás que virá pelo Rota 3 até o Gaslub como matéria-prima para produção dos petroquímicos.

Outro setor que usa o gás como matéria-prima e que está no centro das discussões para a política energética, hoje, é a indústria de fertilizantes nitrogenados.

No Congresso e dentro do próprio governo, há uma mobilização hoje para a retomada das obras da fafen da Petrobras em Três Lagoas (MS) – e para construção da fábrica em Uberaba (MG).

O que isso pode significar? O uso do gás como matéria-prima pode ser uma importante âncora para os novos investimentos em infraestrutura. Mas não é um ponto pacifico: a indústria teme que setores sejam privilegiados em detrimento de outros, com preços diferenciados, nessa política.

 

Fonte: Epbr