16 de maio de 2023

Dólar cai a R$ 4,88, menor nível desde junho

Autor: Redação

A expectativa por um arcabouço fiscal mais rígido que o apresentado pelo governo voltou a embalar os ativos brasileiros ontem e levou o dólar ao menor nível desde junho de 2022. A moeda caiu 0,73% e fechou o dia cotada a R$ 4,8876.

Com as atenções dos agentes de mercado voltadas ao texto da proposta de arcabouço fiscal, a expectativa é a de que se sejam penalidades mais duras no caso de descumprimento das metas de resultado primário.

O otimismo se mostrou presente desde o início da sessão, também com algum apoio do cenário externo. Porém, o bom humor se intensificou à tarde, após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, indicar que esperava concluir as negociações ainda ontem. Além disso, o relator da proposta, deputado Claudio Cajado (PP-BA), firmou que o parecer trará gatilhos para o caso de o governo não entregar as metas fiscais, embora tenha descartado punição criminal por descumprimento das metas.

Foi o quinto pregão consecutivo de valorização do real ante o dólar. Embora não veja uma extensão do movimento atual do câmbio por muito tempo, o gestor de moedas Valter Unterberger, do Opportunity Total, diz acreditar que o texto do marco fiscal pode sair melhor que o elaborado pelo governo, o que daria apoio ao mercado doméstico. “O fato de a discussão atual estar focada em ter um texto mais rigoroso, e não mais leniente com os gastos, já é um sinal disso.”

O diferencial de juros é outro fator que continua a dar sustentação ao real, na medida em que o Banco Central mantém um tom mais conservador. Nesse sentido, o estrategista-chefe para mercados emergentes do Deutsche Bank, Drausi Giacomelli, observa que, mais recentemente, o câmbio tem se mostrado mais sensível à percepção de risco e ao nível do carrego. O banco alemão, inclusive, mantém posições vendidas em dólar contra o real e tem como alvo o nível de R$ 4,80 por dólar.

A economista Cristiane Quartaroli, do banco Ourinvest, também observa que o diferencial de juros ainda elevado tem ajudado a apoiar o real. “Enquanto o Fed já ajusta o tom e o mercado precifica uma queda nas taxas neste ano, aqui a preocupação com as expectativas e com a própria inflação corrente permanece forte”, afirma. “No fim das contas, o que ocorre é um ingresso de dólar por meio do fluxo estrangeiro, que passa a olhar para os juros mais atrativos”, diz.

Não por acaso, o mercado de juros também anotou nova rodada de descompressão de prêmios de risco. No fechamento, a taxa do DI para janeiro de 2029 caiu de 11,60% para 11,42%, em um movimento que também foi apoiado pela perspectiva de um projeto de arcabouço fiscal mais rígido.

“Pelas sinalizações do relator, algumas regras podem ser endurecidas para aumentar o compromisso fiscal e melhorar a imagem final do relatório. No entanto, mantemos o tom de cautela com relação ao impacto nas perspectivas das contas públicas”, afirma Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas. Cabe apontar que os juros de longo prazo, que são mais sensíveis ao risco fiscal, foram os que exibiram melhor desempenho na sessão de ontem.

O bom humor no câmbio e nos juros também reverberou na bolsa, com o Ibovespa em sua oitava alta consecutiva, ao fechar com ganho de 0,52%, aos 109.029 pontos. Ações ligadas a mineração e siderurgia, que têm peso na formação do índice, fecharam em alta, na esteira do salto de 4% dos preços do minério de ferro em solo chinês. As ações ordinárias da Vale subiram 1,44% e as da CSN ganharam 1,88%.

Além do componente doméstico, os ganhos observados em Wall Street, diante de um maior otimismo em torno das negociações para elevar o teto da dívida pública dos Estados Unidos, ajudaram a embalar a sessão favorável a risco no mercado doméstico. “No fim de semana, houve relato de melhoras nas conversas, mas ainda é um assunto de incerteza para as próximas semanas”, afirma Ashikawa, da Principal Claritas. “As negociações devem acontecer com mais intensidade nos próximos dias.”

Além do bom desempenho do câmbio, dos juros e da bolsa, também vale destacar que, mais uma vez, os agentes retiraram prêmio da precificação de inflação dos próximos anos. A inflação “implícita” embutida na NTN-B com vencimento em maio de 2027 caiu de 5,59% para 5,56% e a inflação extraída da NTN-B para agosto de 2028 recuou de 5,68% para 5,62%.

“A aprovação do arcabouço fiscal pelo Congresso e novas medidas que fortaleçam a arrecadação tributária ajudarão a reduzir a incerteza fiscal, com possíveis efeitos benéficos sobre as expectativas de inflação de longo prazo”, dizem os economistas do Safra em relatório enviado a clientes, ao apontarem que, ao longo dos próximos meses, o balanço de riscos do Copom para a inflação deve melhorar.

“Em segundo lugar, a queda dos preços de commodities em moeda local estão gerando deflação consistente no atacado desde meados do ano passado, o que contribui para amenizar os custos de produção de bens”, dizem. O Safra estima deflação de 2% do IPA neste ano.

Fonte: Valor Econômico

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