10 de junho de 2023

Da Petrobras à presidência do conselho de administração da 3R Petroleum, a trajetória sinuosa de Roberto Castelo Branco

Autor: Thiago Medeiros

A transferência do executivo da estatal para a petroleira, respeitada a quarentena legal, seria aceitável não fosse o fato de a "3R" ter sido uma das principais beneficiárias do desmonte da Petrobras promovido por Roberto Castelo Branco, com a venda de ativos da empresa a preço vil.

 

RICARDO BRUNO - Em nota à Agenda do Poder, a 3R Petroleum nega que tenha entre seus acionistas ex-diretores da Petrobras. A empresa confirma, contudo, que o ex-presidente da Petrobras Roberto Castelo Branco é o atual presidente de seu Conselho de Administração.

 

A transferência do executivo da estatal para a petroleira, respeitada a quarentena legal, seria aceitável não fosse o fato de a “3R” ter sido uma das principais beneficiárias do desmonte da Petrobras promovido por Roberto Castelo Branco, com a venda de ativos da empresa a preço vil.

 

A “3R” comprou nove polos de gás e petróleo ofertados pela estatal – três deles, ainda em fase de transição. A aquisição fez da então minúscula petroleira uma empresa altamente rentável, com o registro de crescimento de seu lucro a impressionantes 1.364%. No último balanço divulgado, a 3R registrou receita líquida no terceiro trimestre deste ano de R$ 502 milhões, um aumento de 161% em relação ao mesmo período de 2021. Já o lucro líquido foi de R$ 469 milhões, um fabuloso crescimento de 1.364%, comparado ao trimestre anterior.

 

Eticamente condenável, a transmutação súbita de Roberto Castelo Branco de presidente da Petrobras a presidente do board da 3R pode ser legal. Mas agride o bom senso e às regras de compliance de qualquer empresa que preze por sua reputação. O Conselho de Administração é a instância máxima de uma companhia, de onde emanam as diretrizes e estratégias de negócio. Ao board se reporta, inclusive, a diretoria executiva da empresa.

 

A indicação do executivo para o cargo trouxe indignação ao Sindicato do Petroleiros do Rio de Janeiro, que em nota protestara à época:

 

“Será que depois de um ano fora da Petrobrás o ex-presidente esqueceu ou apagou de sua memória todos as informações estratégicas sobre as atividades da Petrobrás? Será que Bolsonaro e Paulo Guedes deram alguma pílula azul para Castello apagar de sua memória e HDs informações privilegiadas? Será que a atuação de Castello, lá atrás, no momento das vendas e privatizações de cada campo que compõe a nova empresa, já não estava contratada?”, questionara o Sindipetro-RJ.

 

O caso em si é um exemplo rematado do capitalismo predatório instalado no país durante a gestão de Paulo Guedes. Castelo Branco era um apaniguado do Ministro da Fazenda, a quem se reportava na estratégia de desmonte da Petrobras.

 

Mostra ainda a forma despudorada com que atuava a direção da maior estatal do país em favor exclusivamente dos lucros dos acionistas, sem qualquer compromisso com os interesses do povo brasileiro. E evidencia as relações duvidosas, às vezes promíscuas, entre gestores de empresas públicas ou estatais e agentes do mercado.

 

 

[0] Comentários | Deixe seu comentário.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.