20 de julho de 2023

Os vários sinais da economia

Autor: Redação

O Globo - O Fundo Monetário Internacional (FMI) informou em relatório que o Brasil tem recebido fluxos “consideráveis” de recursos estrangeiros e que a tendência é que o investimento direto vá ganhando mais peso no total de capital externo que entra no Brasil. Este é considerado o melhor tipo de investimento, já que é direcionado à produção e é de longo prazo.

O Ministério da Fazenda revisou ontem para 2,5% a previsão de crescimento do ano. Contudo, no mesmo dia, o monitor do PIB da FGV apontou que a atividade tombou 3% em maio, e o IBC-Br de maio, divulgado segunda-feira, registrou queda de 2%, um número pior do que o previsto pelos bancos. Afinal, a conjuntura econômica é boa ou ruim?

Há seguidas boas notícias na área econômica, mas há sombras. Ao mesmo tempo em que a mediana da previsão de crescimento do ano subiu de 0,8% para perto de 2,24% desde janeiro, há a certeza de que, no imediato, a tendência é de desaceleração. Vai crescer mais no ano do que se imaginava, mas agora é uma hora de baixo crescimento.

Em parte tem o efeito sazonal da maior safra de grãos que o país já produziu. Ele já ficou para trás. Em parte pelos juros elevados por muito tempo, que cobram seu preço. O país deve crescer mais de 2%, mas, em grande medida, pelo que aconteceu no primeiro trimestre. Agora a economia está às voltas com vários problemas decorrentes da política monetária apertada.

O que os últimos indicadores como o IBC-Br do Banco Central, o Monitor do PIB da FGV e os dados setoriais fazem é reforçar que a melhor decisão do Copom é cortar os juros. E hoje o que se discute é quanto. Muito provavelmente os juros serão reduzidos em 0,5 ponto percentual, levando a Selic para 13,25% no começo de agosto.

Para justificar a decisão do BC há números fracos de atividade e os dados positivos de queda da inflação, que está em 3,1%, nos últimos 12 meses. Há dados surpreendentes como o que está acontecendo com o IGP-M, que ontem chegou a uma queda de 7,72%, nos últimos 12 meses. Os donos dos imóveis e as imobiliárias administradoras não falam, mas deviam falar, em redução dos aluguéis. Afinal, se o número fosse de alta eles estariam elevando os preços.

balança comercial que será recorde, como O GLOBO ressaltou ontem, foi também puxada pelo agronegócio. O saldo no primeiro semestre foi de US$ 45 bilhões. No ano deve chegar a US$ 65 bilhões. Ou seja, a maior parte já aconteceu. Mas o Brasil vive uma conjuntura muito boa no comércio exterior.

O superávit subiu por aumento de volume exportado, os preços das commodities agrícolas caíram, o dólar está em nível mais baixo e a previsão do PIB subiu. Houve um tempo em que o superávit só aumentava se houvesse recessão, desvalorização cambial, ou ambos.

Independentemente da perda de fôlego da atividade no curto prazo, um exame detalhado dos números revela que a conjuntura é singular e muito favorável ao Brasil, e que há motivos para otimismo. Mas, ao mesmo tempo, há sombras no horizonte.

No curto prazo, o novo ataque russo ao escoamento da produção agrícola da Ucrânia, através da suspensão do acordo e do bombardeio contra dois portos ucranianos, pode afetar preços internacionais de milho e trigo e, portanto, de ração animal e de pães e massas em geral. Por enquanto não é forte, mas uma das boas notícias deste ano tem sido a queda da inflação de alimentos.

O mais preocupante, contudo, é o efeito do El Niño nos dados de 2024. O Bradesco divulgou ontem um relatório sobre o assunto em que disse que “a intensidade do atual fenômeno é incerta”, mas que a “rápida aceleração da temperatura das águas do Pacífico traz um risco de ocorrência de um super El Niño”.

A última vez que o fenômeno veio com muita força, em 2015-2016, houve uma quebra de safra global de grãos e de açúcar, o que pressionou os preços dos alimentos. “O grande risco, em nossa avaliação, é termos uma quebra de safra agrícola global, elevando os preços no mundo. Nesse cenário a safra brasileira recuaria 10% e a inflação de alimentos no domicílio ficaria entre 8% e 9%.”

Isso piora tanto a previsão de crescimento do PIB, quanto a de inflação no ano que vem. Tudo isso precisa estar no radar: a evidente melhora na economia, os sinais recentes de fraqueza na atividade e o imponderável.

Miriam Leitão (Com Maeli Prado)

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