25 de agosto de 2023

Jogadora de futebol da Espanha diz que presidente da federação a beijou sem consentimento

Autor: Cecília Marinho

A jogadora de futebol espanhola Jenni Hermoso afirmou nesta sexta-feira (25) que Luis Rubiales, o presidente da confederação de futebol do país, a beijou sem consentimento após a vitória da seleção do país na Copa do Mundo não foi consensual.

 

"Quero deixar claro que em nenhum momento eu dei consentimento ao beijo que ele me deu e eu não tentei levantar o presidente (do chão). Eu não tolero que coloquem minha palavra em dúvida e menos ainda que inventem palavras que eu não disse", ela afirmou.

 

Esperava-se que Rubiales fosse pedir demissão nesta sexta-feira, durante uma assembleia geral da federação, mas ele se recusou a fazer isso. "Não vou renunciar, não vou renunciar", repetiu Rubiales na sessão, contrariando as previsões da imprensa. Segundo ele, na hora do beijo, perguntou a Hermoso: "Um selinho?", e ela respondeu: "Ok".

A jogadora negou que esse diálogo tenha acontecido. Em uma publicação divulgada em uma rede social, ela afirmou que a conversa que ele relatou nunca existiu. "Eu me senti vulnerável e vítima de uma agressão, um ato impulsivo, machista, fora de lugar e sem nenhum consentimento da minha parte", disse ela.

 

Hermoso diz que, para colocar em termos simples, ela não foi respeitada. Ela também afirma que não quer interferir nas investigações, mas que as palavras de Rubiales são falsas.

 

Lembre-se do caso

 

O presidente da RFEF pediu "perdão total" por seu comportamento na final da Copa do Mundo, no domingo (20). A Espanha derrotou a Inglaterra e se tornou a campeã do mundo.

Ao distribuir as medalhas, ele segurar a cabeça de Jennifer Hermoso, camisa 10 da seleção, com as duas mãos e deu um beijo na boca dela. As imagens rodaram o mundo.

Pouco depois da difusão do beijo, em um vídeo divulgado no Instagram e gravado no vestiário, Jennifer Hermoso comentou, sobre o episódio: "Não gostei, eca!".

O presidente da entidade esportiva afirmou que se "equivocou" ao beijar Hermoso - embora tenha se referido ao beitjo como "espontâneo, mútuo, eufórico e consentido".

"Esta é a chave, foi consentido", disse ele.

 

O dirigente de 46 anos passou a ser alvo de críticas de diversos setores da sociedade. Rubiales afirmou que "está sendo cometido um assassinato social. Estão tentando me matar".

O presidente da Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, beijou a jogadora Jenni Hermoso durante a cerimônia de premiação da Copa do Mundo femina, em Sydney, na Austrália — Foto: Hannah Mckay/Reuters e Reprodução

O presidente da Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, beijou a jogadora Jenni Hermoso durante a cerimônia de premiação da Copa do Mundo femina, em Sydney, na Austrália — Foto: Hannah Mckay/Reuters e Reprodução

 

Presidente se diz perseguido

 

Na assembleia, ele fez uma pergunta retórica: "É para eu sair daqui por causa de um selinho consentido?", disse ele.

 

O dirigente atacou "o falso feminismo que não busca a verdade", direcionando a fala a três ministras do governo espanhol, incluindo a número três do Executivo, Yolanda Díaz, que foi uma das primeiras a exigir sua renúncia.

 

Um grupo de 56 jogadoras da Espanha afirmou que não vai jogar pelo time se Rubiales não deixar o comando da federação.

 

 

Repercussão no país

 

Sindicatos de jogadores, treinadores, equipes e jogadores de futebol também criticaram o ocorrido. A Fifa abriu um processo disciplinar contra ele, enquanto a Uefa, da qual é um dos seus vice-presidentes, permanece em silêncio.

O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, e seu ministro da Cultura e Esportes, Miquel Iceta, censuraram o gesto de Rubiales, pedindo que fosse além de um simples pedido de desculpas que muitos consideraram forçado.

"Compreendo a grande comoção que se criou, já pedi perdão pelo gesto que me parece muito infeliz, e a questão do beijo que já disse é livre, é mútua, consentida, mas devo pedir desculpas pelo contexto em que ocorreu, não estou fora do mundo e sei que errei", disse ele nesta sexta-feira.

 

Denúncias no TAD

 

A pressão sobre o presidente da RFEF já havia aumentado no início da semana, e, até o momento, três queixas foram apresentadas ao Conselho Superior do Esporte (CSD, na sigla em espanhol), que pretende enviá-las ao Tribunal Administrativo do Esporte (TAD).

Na quarta-feira (23), a própria Jenni Hermoso declarou que sua agência está em coordenação com seu sindicato, o Futpro, para que que sejam tomadas "medidas exemplares" contra Rubiales.

"Hoje já posso anunciar que vamos levar ao TAD uma denúncia por uma falta gravíssima", disse nesta sexta-feira à Cadena Ser o presidente do CSD, Víctor Francos, que disse estar surpreso com a decisão do dirigente.

O Ministério Público enviou uma denúncia por um suposto crime de agressão sexual para a Audiência Nacional, principal instância penal na Espanha, que deve estudar se irá admiti-la para processamento.

"O que vimos hoje na Assembleia da Federação é inaceitável. O Governo deve agir e tomar medidas urgentes. A impunidade para ações machistas acabou. Rubiales não pode continuar no cargo", afirmou a vice-presidente Yolanda Díaz na plataforma X (ex-Twitter).

"Vergonha alheia", escreveu em suas redes sociais o ex-goleiro da seleção espanhola Iker Casillas, que se retirou da corrida das últimas eleições da Federação vencidas por Rubiales em 2020.

A ganhadora de dois prêmios Bola de Ouro, Alexia Putellas, também reagiu ao caso. "Isso é inaceitável. Acabou. Estou com você, companheira Jenni Hermoso", disse ela nas redes sociais, assim como as jogadoras Cata Coll e Aitana Bonmatí, entre outras.

Já o atacante do Betis Borja Iglesias anunciou que não vai "retornar à Seleção Nacional até que as coisas mudem e este tipo de ato não fique impune".

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