6 de setembro de 2023

“Parcelado sem juros” esconde custo, mas é importante para a economia, dizem especialistas

Autor: Cecília Marinho

O parcelamento sem juros, que entrou na mira do Banco Central em uma cruzada para reduzir os juros do cartão de crédito, é não só uma modalidade tipicamente brasileira como também uma espécie de ficção na qual todos resolveram acreditar, de acordo com especialistas do mercado de crédito consultados pela CNN.

“Não existe almoço grátis. O comércio tem custos com isso e eles estão embutidos no preço”, diz o coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Ahmed El Khatib.

 

Ainda assim, os especialistas concordam que o “parcelado sem juros” já se tornou peça fundamental tanto na receita do comércio quanto no orçamento dos consumidores, se não na cultura financeira brasileira como um todo, e combate-lo traria consequências piores.

“Se não tiver essa estratégia de parcelamento, não vai ter consumo”, complementa Khatib. “O parcelamento sem juros é usado pelas lojas para impulsionar as vendas e permite que o consumidor, normalmente de baixa renda, adquira as coisas sem comprometer seu orçamento familiar. Extingui-lo afetaria a sustentabilidade de diversos comerciantes pelo país, o que é ruim para a economia como um todo.”

Juros de mais de 400%

Em declarações recentes, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que o governo deve pensar em medidas para desestimular o uso irrestrito do “parcelado sem juros”.

 

No diagnóstico de Campos Neto, o uso disseminado dos longos parcelamentos acaba amplificando o uso do cartão de crédito e, com ele, do crédito rotativo do cartão, modalidade com as maiores taxas de inadimplência e de juros do país.

 

A taxa do rotativo, aplicada sobre aqueles que deixam de pagar a fatura do cartão em dia, é atualmente de cerca de 15% ao mês, em média, e passa dos 400% em um ano, de acordo com os dados do BC.

A sugestão, entretanto, foi prontamente criticada por entidades do comércio, serviços, empreendedorismo e também das emissores de cartões, além de relativizada pelo próprio governo depois da repercussão.

 

Os varejistas argumentam que o parcelado sem juros “não só funciona como uma alavanca do valor médio das transações como também aprimora, significativamente, a administração do estoque”, e sua extinção “pode prejudicar milhares de negócios, em especial os micro e pequenos”, de acordo com uma nota da FecomercioSP.

 

A FecomercioSP é a federação que representa empresas do comércio, serviços e turismo do estado de São Paulo.

 

Os bancos, por sua vez, embora também reconheçam a importância da modalidade para a economia, defendem que ela traz distorções e merece ser revisada.

 

“O prazo de financiamento impacta diretamente no custo de capital e no risco de crédito, e a inadimplência das compras parceladas em longo prazo é bem maior do que na modalidade à vista”, disse a Febraban, federação que representa os bancos, em nota sobre o tema.

Fonte: CNN Brasil 

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