14 de setembro de 2023

Força de Kim em visita à Rússia mostra o custo da aventura militar na Ucrânia

Autor: Cecília Marinho

É significativo que Kim tenha priorizado a Rússia em detrimento da China, a mais próxima aliada da Coreia do Norte

A visita de Kim Jong-un à Rússia marca uma histórica inversão de papéis entre a Coreia do Norte e a antiga União Soviética.

  • Na Guerra da Coreia, entre 1950 e 1953, foi Josef Stalin quem forneceu armas e apoio logístico à mobilização de tropas chinesas e norte-coreanas contra as forças pró-capitalistas do Sul, apoiadas pelos Estados Unidos.
  • Agora, é a Coreia do Norte quem oferece munição e foguetes de desenho soviético para a Rússia manter seu esforço de guerra contra a Ucrânia.

Quais são os objetivos da Coreia do Norte?

Em troca, Kim quer tecnologia para a construção de satélites militares de espionagem e de mísseis disparados por submarinos com capacidade de transportar ogivas nucleares.

São itens bastante sensíveis para qualquer país compartilhar. Entretanto, o formato do encontro entre Kim e Vladimir Putin, e sobretudo o local, o Cosmódromo Vostochny, no extremo leste da Rússia, indicam que o ditador norte-coreano pode conseguir o que deseja, ao menos em parte.

Ao receber Kim, que desembarcou de sua limusine trazida de trem de Pyongyang, na entrada da base, Putin apertou sua mão por 40 segundos. O encontro durou 4 horas.

Repórteres russos que acompanharam a visita disseram que o ditador norte-coreano fez perguntas detalhadas sobre o programa espacial russo.

“A Rússia está atualmente envolvida numa luta justa contra as forças hegemônicas para defender os seus direitos soberanos, segurança e interesses”, declarou Kim. “A República Popular Democrática da Coreia sempre expressou o seu apoio total e incondicional a todas as medidas tomadas pelo governo russo, e aproveito esta oportunidade para reafirmar que estaremos sempre ao lado da Rússia na frente anti-imperialista e na frente da independência.”

Primeira viagem em 4 anos

No 70.º aniversário do armistício da Guerra da Coreia, dia 27 de julho, o chanceler russo, Sergey Lavrov, visitou Pyongyang, e foi filmado numa exibição de armas do arsenal norte-coreano.

Na visita, Lavrov convidou Kim a visitar a Rússia. Foi a primeira viagem desde 2019 do ditador norte-coreano, que isolou seu país e a si mesmo durante a pandemia.

É significativo que ele tenha priorizado a Rússia em detrimento da China, a mais próxima aliada da Coreia do Norte. A explicação é exatamente a emergência vivida pela Rússia.

Fator guerra

A contra-ofensiva ucraniana realiza avanços, ainda que lentos, e atinge alvos estratégicos, como a base naval de Sevastopol, na Crimeia, nessa quarta-feira. A doutrina militar soviética é baseada no uso maciço de artilharia.

Os estoques de munição, foguetes e mísseis, acumulados desde a época soviética, estão acabando. A Coreia do Norte tem dezenas de milhões de unidades de munição de artilharia compatível com o sistema russo, herdado da União Soviética.

Diante disso, Kim sente que pode extrair mais concessões de Putin do que do ditador chinês, Xi Jinping.

Além de tecnologia de satélites e mísseis, sua lista de compras inclui alimentos e energia, de que a Rússia dispõe fartamente. Os dois países são alvos das maiores sanções do Ocidente.

A Coreia do Norte também ajuda o Irã, outro país sob sanções, no seu programa nuclear. O Irã, por sua vez, fornece drones para a Rússia, que os tem usado maciçamente para atacar a Ucrânia, suprindo a escassez de foguetes e mísseis no arsenal russo.

Os três países são aliados da China, que agora não precisa mais se preocupar com a projeção de poder da Rússia, sua antiga adversária. O custo da aventura militar na Ucrânia e o consequente isolamento tornaram a Rússia dependente da China.

Fonte: CNN Brasil 

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