28 de outubro de 2023

Os últimos movimentos da política de Natal fortaleceram Carlos Eduardo: entenda como os demais atores estão posicionados na disputa pela prefeitura do Natal

Autor: Daniel Menezes

Os últimos movimentos da política de Natal fortaleceram Carlos Eduardo. E isto não acontece apenas pelo fato de Carlos Eduardo liderar as pesquisas de intenção de voto. A questão é relacional. Para mim, prognóstico é coisa séria e odeio errar. Portanto, irei apresentar o modo como cada ator está posicionado diante do cenário da disputa e tentar chegar, na medida do possível, a um fechamento um tanto quanto precário da correlação de forças estabelecida até agora.

ÁLVARO DIAS NÃO É MAIS O MESMO

O prefeito de Natal Álvaro Dias caiu em sua avaliação positiva no segundo mandato. Quem o compra como aquele que se elegeu em primeiro turno na eleição anterior, compara banana com maçã. Em termos de aprovação, ele gravita nos 40%, conforme a última sondagem do instituto seta. O instituto datavero o colocou no patamar de 30% de ótimo e bom em avaliação positiva. São números insuficientes para fazer sucessor com força única sem depender de mais ninguém.

Confesso que achava pouco provável o apoio dele a Carlos Eduardo, conforme corre nos batidores. Só que a candidatura de Paulinho Freire não avança e Rafael Motta carece ainda de musculatura. E a história de lançar um secretário novato da própria administração não passa de puro despiste. Com isso, acredito que cresce a possibilidade de Dias tentar uma composição com CE.

O fato dele acenar para Lula com críticas a Bolsonaro e o senador bolsonarista Rogério Marinho, em face de necessitar de recursos para finalizar o mandato com obras realizadas, retira-lhe a possibilidade de liderar um bloco de oposição ao PT em 2026. Desta maneira, a aproximação com Carlos Eduardo, que está no PSD da base de Lula, fica mais crível também.

PAULINHO FREIRE / RAFAEL MOTTA

Como disse, a candidatura de Paulinho não avança. Ele tem o apoio dos vereadores de Natal. Só que não é suficiente para se tornar prefeito. O problema de Freire é de posicionamento. Não dele em especial. Ele é um político qualificado. Não entro no currículo pessoal. Só que está sendo imprensado por um público que é do PT, outro que olha para o retorno a uma normalidade do tempo de Carlos Eduardo e um restante que ainda não tomou posição, mas não foi para ele. Ele não tem chão em 2024 em Natal.

Motta também apresenta dificuldades para crescer e há, assim como Freire, problema de posicionamento, além da falta da musculatura política de um grupo que lhe dê suporte. Daí a dependência de ser adotado por alguém como candidato. Ele age corretamente ao depositar todas as suas fichas na possibilidade de Álvaro Dias olhar para ele e dizer: você será meu postulante. Sem isso, ele não terá qualquer meio de atuar. O fato é: Freire e Motta dependem da superação de muitos poréns. 

E UM CANDIDATO BOLSONARISTA?

E um candidatura bolsonarista? Terá chance? Um grupo se formou a partir do senador Rogério Marinho e Styvenson Valentim na última semana. Ora, não há espaço em Natal para tanto. Com plataforma centrada no radicalismo bolsonarista, sem laços com problemas locais, caso aconteça, será uma postulação restrita aos votos de uma pequena elite local - tem muita capacidade de fazer barulho, mas pouco espaço para crescer eleitoralmente. Acredito que eles buscam, na verdade, indicar o vice-prefeito em uma chapa competitiva.

E O PT? O DILEMA DE NATÁLIA BONAVIDES

Até agora o PT em Natal não apresenta sinais de que irá ultrapassar seu público histórico na capital e a deputada federal Natália Bonavides, provável candidata do partido, não se movimenta para ampliar o arco de alianças. Ele não demonstra que quer vencer de fato ano que vem - o que implica correr alguns riscos -, de que sinaliza desfazer a imagem muito à esquerda que tem na cidade.

Não é uma crítica. A posição de Natália não é simples. Deputada federal mais votada do RN, garante votação estupenda com os setores progressistas potiguares. Fazer uma movimentação ao centro é fundamental para ter chances de vencer ano que vem. Só que há o perigo da operação não funcionar devidamente e ela colocar em risco seu forte capital eleitoral nos 167 municípios potiguares. Daí o titubeio.

Natal é uma capital de perfil mais conservador do que o restante do eleitorado do RN. Se ela for mais para o centro, pode acessar o eleitorado de Natal para uma disputa majoritária, mas coloca em risco a sua relação com um público cativo no restante do RN. É o dilema.

O percurso de Natália é o de agir aparentemente pela prefeitura do Natal, mas com esse eleitorado espalhado por todo o RN, atuar em 2024 pensando em voos mais altos em 2026. É o que vislumbro em sua incursão.

POLÍTICA É GRAVIDADE

A "lei da gravidade" da política vai por enquanto pendendo para Carlos Eduardo. O poder de atração da perspectiva de vitória permite que ele abra diálogo com outros partidos e saia do seu anterior isolamento. 

O que resta objetivamente esperar até o pleito de 2024? Ora, se nenhuma operação policial ocorrer ou algo impossível de imaginar - o acaso incontrolável -, resta saber com que força Álvaro Dias irá chegar ano que vem, para entender o poder da máquina municipal. E o modo como a economia nacional, principal vetor de análise do poder de Lula; e o fator de forte preocupação em Natal segurança pública, como meio de influência da governadora Fátima Bezerra, estrão em 2024 configurados. Mas sempre lembrando - a eleição municipal, com o perdão da redundância, é fenômeno local. E ainda há um ano até a disputa de fato acontecer. Cabe, portanto, aguardar e conferir.

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