27 de março de 2024

Por que não faz sentido a explicação de Bolsonaro sobre sua estadia na embaixada da Hungria

Autor: Daniel Menezes

Um vídeo dando conta da permanência de dois dias na embaixada da Hungria foi publicado pelo jornal New York Times. O periódico é categórico: tratava se de uma tentativa de fuga. Passada a publicação, o sistema de desinformação bolsonarista entrou em campo e tentou espalhar que o ato não passou de mera estadia. É preciso fazer uma incrível edição e supressão de acontecimentos para sustentar tal versão. Vamos aos fatos.

1. O ex-presidente Jair Bolsonaro não tinha agenda naquela embaixada. Isto porque, não apenas ela não foi revelada, como também fica claro pelo próprio vídeo. Na presente situação, Bolsonaro chega, sem trajes adequados, apenas com um segurança, sem nenhuma comitiva, e bate palma no portão para chamar alguém para abrir para ele. Também no próprio vídeo, os funcionários assustados correm às pressas com roupa de cama ajeitar a dormida para ele no local, que fica na cidade em que ele mora;

2. Jair Bolsonaro sabia que, com passaporte recém apreendido, não poderia ir para uma embaixada. Em recente jurisprudência pacificada pelo STF a partir do caso do deputado federal preso Daniel Silveira, seu aliado, o tribunal determinou e divulgou amplamente que investigados impedidos de sair do país não poderiam se instalar em embaixadas, o que seria considerado uma fuga;

3. O próprio Bolsonaro, em vídeo publicado pelo Estadão e aqui no blog recém repercutido, acusou Lula em 2018 de planejar uma fuga do país via pedido de asilo diplomático. Lula nunca tentou o ato. Mas Bolsonaro sabia exatamente o que seria a consequência da sua ação;

4. Além do passaporte apreendido, ação tida como possível prelúdio para a prisão posterior, Bolsonaro tinha acabado de presenciar o encarceramento de 4 pessoas de seu círculo mais próximo naquele momento e muitas provas sobre sua participação direta na organização de uma tentativa de golpe. A possibilidade de sua prisão naquela situação foi inclusive ventilada.

Em resumo, Bolsonaro sabia que não poderia ser alcançado dentro de uma embaixada e também tinha pleno conhecimento de que o que fazia ali seria interpretado como uma tentativa de fuga, não apenas pelas leis, como pela análise política que ele mesmo fez no passado contra adversários. Ele não tinha nenhuma agenda na embaixada. Tanto que fez tudo às escondidas. Passado o perigo e após dois dias dormindo em área protegida pela inviolabilidade diplomática, ele saiu da toca.

O cenário não apresenta espaço para conjecturas e, como disse a polícia federal em comunicado, a versão bolsonarista é patética. E, ora, é mesmo. É possível ter uma opinião sobre o fato; não contra os fatos. 

 

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