18 de outubro de 2024

Surpresas e retrospectos no segundo turno em Natal, por Anderson Cristopher dos Santos

Autor: Redação

Surpresas e retrospectos no segundo turno em Natal

por Anderson Cristopher dos Santos

Pela primeira vez desde 1992, o líder das pesquisas no início da campanha eleitoral não será eleito prefeito de Natal, contrariando longo retrospecto. Até os últimos instantes do primeiro turno, as pesquisas indicavam que o ex-prefeito Carlos Eduardo Alves (PSD) estaria no segundo turno das eleições de 2024. As pesquisas apontavam Alves em empate técnico, na liderança, com o candidato da situação, o deputado federal Paulinho Freire (União Brasil).

 

O ex-prefeito concluiu sua participação nas eleições de 2024 em terceiro lugar. No segundo turno, estão o candidato do União Brasil e Natália Bonavides (PT). Direita e esquerda, situação e oposição, enfrentam-se nas urnas no dia 27.

 

Carlos Eduardo Alves não construiu alianças políticas senão com o Democracia Cristã, do seu candidato a vice, Jacó Jácome, ligado a segmentos evangélicos. Por outro lado, Freire (União) construiu um robusto arco de alianças, com Republicanos, PL, PP, PSDB, Podemos e Solidariedade. Bonavides (PT) aliou-se ao MDB, PSB e PDT, além da Federação Brasil da Esperança, da qual o seu partido faz parte com PV e PCdoB.

Concorreram, ainda, o ex-deputado federal Rafael Motta (Avante), Heró Bezerra (PRTB) e Nando Poeta (PSTU), que não firmaram nenhuma aliança.

As coligações eleitorais conferem óbvia vantagem aos candidatos: maior tempo de propaganda de rádio e de televisão, dando a Paulinho Freire e a Natália Bonavides maior exposição em relação ao então líder das pesquisas. A Paulinho foram destinados 55% do tempo disponível; a Natália, 31%; e 10% a Carlos Eduardo.

O ex-prefeito Alves foi o alvo preferencial das propagandas negativas e das críticas, ao passo que optou por passar ao largo dos ataques, sobretudo originários da campanha do candidato governista, para quem Alves seria “o plano B do PT”, em alusão às alianças pretéritas entre o Partido dos Trabalhadores e Carlos Eduardo.

 

No primeiro turno, Freire utilizou parte relevante de seu tempo de propaganda de rádio e televisão para veicular propagandas negativas, explorando a impopularidade do governo petista no estado, desidratando eleitoralmente o principal nome da oposição, que possuía um eleitorado de perfil mais diversificado, na perspectiva de atrair o eleitorado de direita e crítico ao Partido dos Trabalhadores.

De acordo com as pesquisas do instituto DataVero, feitas no final de agosto, Alves era a opção de 34% do eleitorado que desaprovava o governo Lula, enquanto a Freire cabia 28%; no começo de outubro, Freire era a preferência de 56% deste eleitorado, e Alves era a escolha de 21%. No começo de outubro, 45% do eleitorado natalense reprovava o governo Lula, quase o mesmo percentual que Freire obteve no primeiro turno e que o senador de direita Rogério Marinho obteve na capital em 2022.

Uma semana após o início do horário eleitoral em rádio e televisão, Carlos Eduardo tinha, na média das pesquisas, 36% das intenções de voto, enquanto Freire possuía 20% e Bonavides, 19%. Nas pesquisas no final do primeiro turno, Alves obteve, na média, 29%, Freire marcou 33%, e Bonavides, 23%. Nas urnas, considerados nulos e brancos, Freire recebeu 40% dos votos e Bonavides, 26%, enquanto Alves obteve 22% (em votos válidos, 44%, 28% e 24%).

Existem muitos dados mostrando que Paulinho Freire obteve sucesso em sua estratégia agressiva contra Carlos Eduardo, atraindo parte do eleitorado do seu adversário.

Dados do instituto Seta mostram uma trajetória especular entre as intenções de votos de Alves e Freire, enquanto Bonavides oscila de 22% para 24%, conforme tabela abaixo.

Intenção de votos versus resultado do primeiro turno

Candidato 5 e 6/9 (intenção %) 3 e 4/10 (intenção %) Variação (%) Resultado 1 turno (votos %) Variação (%)
Carlos Eduardo 37,9 30,4 -7,5 21,6 -8,8
Paulinho Freire 22 30 +8,0 39,8 +9,8
Natália 22 24,4 +2,4 25,7 +1,3
Rafael Motta 3,9 1 -2,9 2,9 +1,9
Branco/Nulo 11,1 6,3 -4,8 9,8 +3,5
NS/NR 3,1 8 +4,9

Fonte: Instituto Seta e TRE/RN.

Alves não buscou a polarização com Freire, o que resultou na sua desidratação, com resultado negativo para sua candidatura. Pode-se dizer que o ex-prefeito apostou tudo na boa avaliação de seus quatro governos, como em uma “volta olímpica”, ou como se estivesse “jogando parado”.

Natália Bonavides obteve 87% de sua vantagem sobre Carlos Eduardo na 3ª. Zona Eleitoral, tradicional reduto eleitoral do PT, formada por bairros de classe média, onde obteve 34% e Alves obteve 16% dos votos. A candidata do PT teve seus piores resultados nos bairros mais nobres (Petrópolis, Areia Preta e Tirol) e na Zona Norte, região mais populosa e de baixa renda per capita, onde Alves mostrou-se mais forte, embora tenha sido o mais votado apenas na Zona Leste.

O que esperar do segundo turno

No início do segundo turno, os candidatos partem de uma situação de empate técnico, conforme pesquisa Seta (38% e 37%) e pesquisa Quaest (Paulinho Freire obteve 45% e Bonavides, 39%).

As primeiras pesquisas apontaram um índice alto de indecisos, brancos e nulos, variando entre 25 e 16 pontos percentuais na estimulada. Quando analisamos as intenções de voto espontâneas, observamos que cerca de um quarto do eleitorado não declara preferência por nenhum dos postulantes.

A pesquisa Quaest revela que, entre os eleitores com rendimento de até três salários-mínimos, 34% manifesta espontaneamente preferência pelo candidato do União Brasil, enquanto 30% declara intenção de voto na candidata do Partido dos Trabalhadores, restando 31% de indecisos e 5% anunciando voto branco ou nulo.

De acordo com Quaest, um terço dos eleitores que têm até o Ensino Fundamental completo estão indecisos. Este segmento representa 28% do total de eleitores. Já um quarto dos eleitores que possuem Ensino Médio completo e incompleto estão indecisos. Este segmento representa 46% do eleitorado. Somando o eleitorado que possui até o Ensino Médio completo, temos 21% de indecisos. Os mais pobres tendem a decidir a eleição, como sugere a Quaest.

Não é incomum que o segundo turno seja um embate de rejeições. No atual momento, porém, os candidatos possuem taxas baixas e similares de rejeição nas duas pesquisas presenciais divulgadas. Conclui-se que a eleição não possui um claro favorito, estando Freire matematicamente à frente de Bonavides na pesquisa Quaest.

Parte da razão para tal equilíbrio está na avaliação positiva moderada do prefeito Álvaro Dias, que possui 40% de avaliação positiva na pesquisa Quaest e 25% negativa. Pode-se atribuir leve favoritismo a Freire, que inclusive possui vantagem entre o vasto eleitorado com Ensino Médio completo e incompleto (44% a 27%), mas o atual cenário sugere acirramento.

A propaganda negativa tende a tornar-se mais frequente na reta final, considerando o equilíbrio entre as candidaturas, sobretudo por causa das baixas e similares taxas de rejeição (26% e 28%).

Freire tem explorado ainda mais o antipetismo e a inexperiência administrativa da jovem deputada de 36 anos, enquanto Bonavides explora as fragilidades da atual gestão municipal e aposta na vinculação de seu nome ao presidente Lula, que deve anunciar na cidade a construção de 1.500 casas em um comício na Zona Norte da capital.

Esta é a segunda vez que o PT chega ao segundo turno em Natal. Em 1996, Fátima Bezerra foi derrotada por Wilma de Faria (PSB) por pouco mais de três pontos percentuais, em uma disputa tão equilibrada quanto a que vimos agora. Não está claro se, a exemplo do primeiro turno, este retrospecto também será contrariado.

Anderson Cristopher dos Santos é professor do Instituto de Políticas Públicas da UFRN e doutor em Ciências Sociais pela UFRN. Este artigo é parte das análises produzidas pelo Observatório das Eleições 2024, iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT/IDDC).

Este artigo faz parte das análises produzidas pelo Observatório das Eleições 2024, iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT/IDDC).

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