1 de dezembro de 2024
"Mas gera emprego" é a frase mestra de todas as ideias furadas no RN
Autor: Daniel MenezesPreste atenção. Toda vez que alguém quer empurrar algo sem discussão no Rio Grande do Norte a proposta vem atrelada a mãxima, "mas gera emprego". Trata-se de uma maneira de chantagear a esfera pública local, se aproveitar de quem legitimamente quer desenvolvimento e produzir o encerramento do debate, colocando os que desejam apresentar restrições ou outros pontos de vista como contrários ao estado. É uma maneira de silenciar especialistas e cercear a ação de instituições próximas ao tema. A história das ideias furadas potiguares está vinculada a noção de que o custo social, ambiental e urbanístico será sempre superado pelos benefícios econômicos.
O papódromo, aquele pequeno mamute lá no centro administrativo, iria virar um grande centro de convenções. Os mais velhos se lembram. O Arena das Dunas abrigaria shows internacionais e traria divisas para as terras de poti. Hoje, o RN paga uma prestação exorbitante que se totalizará em 1 bilhão e meio de reais em mais de duas décadas. Isto sem contar que foram derrubados dois equipamentos - o machadinho e o machadão, ambos recém reformados. Os exemplos se multiplicam.
Agora, com a mudança do codigo de obras de Natal, será possível construir prédios na beira mar da Via Costeira/Ponta Negra, fechando a visão para quem passa na avenida ou no calcadão. O mar só será acessado pelo olhar se o indivíduo caminhar rente a água ou se tiver alguns milhões para comprar uma moradia para ali residir ou alugar uma sala comercial (veja a simulação elaborada pelo MP de como ficará a praia aqui). A justificativa para esta sandice? "Vai gerar empregos".
Sim, no curto período um punhado de gente vai ganhar dinheiro, desviando a finalidade daqueles terrenos doados pelo governo do RN para erguer uma rede hoteleira para a cidade, sendo agora realocados gratuitamente para vender moradias e unidades comerciais. Só que depois já era. No longo período nem economicamente a obra se justifica porque tirará a nossa atratividade turística de sol e mar. Nem balneario camburiu, famosa orla de Santa Catarina, foi tão longe. Lá as construções foram feitas após a via, deixando ao menos para quem passa à pé ou de carro a visão aberta para o mar.
Veja, caro leitor. O "mas gera emprego" retirou a necessidade de ouvir movimentos sociais e ambientais, representantes de moradores da região, empresários, ministério público, universidades, Governo do RN, Prefeitura do Natal, elaborar estudos técnicos. Tudo foi substituído pela frase oca em rápida votação na câmara municipal do Natal.
Eu não tenho dúvida. Passado o boom da construção, o nosso sentimento tem tudo para caminhar para o que Recife sente em relação a praia de Boa Viagem, um espaço morto digno de chacota de turistas que não querem passar nem perto dali. E no final, quem disse que "gerava empregos", desaparecerá como em todas as outras vezes com os bolsos cheios de dinheiro.
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