20 de janeiro de 2025
Engorda da praia de Iracema/Fortaleza: após 5 anos o mar segue violento, afogamentos explodiram, formaram-se batentes na orla e a Prefeitura precisa fazer re-engordas constantes e peneiração da areia
Autor: Daniel MenezesA engorda da Praia de Iracema em Fortaleza é antiga. As críticas, após o início do processo em 2019, são os seguintes: impossibilidade de tomar banho de mar, aumento dos afogamentos, formação de um "batente" na areia já início da água e necessidade de orçamento anual constantemente voltado para impedir que a engorda seja naturalmente engolida pelo mar. Ou seja, a Engorda precisa ser sempre atualizada, com dragagem de areia, peneiração da áreia da praia para retirar os corais e pedras que ficam aonde as pessoas caminham e monitoramento constante das questões ambientais. É preciso que a gente conheça as consequências, até para poder se preparar para elas por aqui. E isto, infelizmente, a prefeitura do Natal não informou.
É possível perceber que, ao contrário do que a prefeitura de Fortaleza prometeu, o mar não ficou menos violento. A mesma promessa é feita aqui, mas pelos múltiplos exemplos que ando lendo, é falsa.
Leia as matérias abaixo.
Do Econordeste - Fortaleza – CE. Na cidade dos verdes mares, os moradores têm uma relação orgânica com o litoral. O mar da Capital alencarina é fonte de sustento, de contemplação, de lazer e atrai milhares de turistas todos os anos. No entanto, essa relação vem sendo abalada devido às obras de requalificação da Beira-Mar. A equipe da Eco Nordeste conversou com frequentadores e especialistas sobre como essas intervenções têm interferido na ocupação desse que é o principal cartão-postal de Fortaleza.
Entre as ações do projeto realizado pela Prefeitura, está a engorda do aterro já existente, na Praia de Iracema, e a criação de um novo aterro entre as avenidas Rui Barbosa e Desembargador Moreira, avançando 80 metros mar adentro. Juntos, os trechos somam dois quilômetros de extensão. Após a conclusão dessa etapa, em novembro de 2020, frequentadores relatam que o banho na região ficou mais perigoso, sobretudo pelo desnivelamento abrupto na costa e pelas ondas mais intensas.
Princípios de afogamentos têm sido mais frequentes, a exemplo do que passou a estudante Rafaele Braga, 19, em 2020. Ela relata que, após entrar no mar acompanhada de duas amigas, mesmo com a água no nível da cintura, foram surpreendidas por uma corrente que as fizeram perder contato com o solo e afundar sob fortes ondas. “Tudo aconteceu de uma forma inesperada. De uma hora para a outra a gente não conseguia nadar a ponto de voltar para a areia. Graças à ajuda de quem estava por perto e dos guarda-vidas conseguimos nos salvar”, conta a jovem, que sempre frequentou a região e agora evita a orla da Praia de Iracema para o banho.
Dinâmica costeira
Não só a engorda da faixa de areia como também a construção de novos espigões são soluções de engenharia bastante conhecidas para evitar processos erosivos ao longo das áreas litorâneas. Entretanto, são tipos de intervenções que inevitavelmente tendem a causar impactos ambientais, como avalia Jeovah Meireles, professor do Departamento de Geografia e pesquisador dos programas de Doutorado em Geografia e em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Além dos fatores oceanográficos e atmosféricos, um dos motivos para o aumento da declividade e da força das ondas nessas intervenções está relacionado ao tipo de sedimento arenoso utilizado nas obras. No caso da Praia de Iracema, explica o pesquisador, foram remanejadas areias proveniente de dunas, cuja granulação é mais grosseira se comparada aos sedimentos que naturalmente se depositam vindos dos rios e das marés.
“Quanto mais grosseiros forem os sedimentos, mais inclinado será o perfil de praia. Além disso, as variações das marés e das ondas derivadas da ação dos sedimentos e do ângulo que as ondas batem na faixa de praia são associadas à formação de cristas e cavas na zona anti-praia, o que altera o ângulo de ataque das ondas, formando fortes correntes de retorno que podem arrastar os banhistas para dentro do mar”, alerta Jeovah.
Responsável pelo diagnóstico que complementou o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da obra a pedido do Ministério Público Federal (MPF), Fábio Perdigão, coordenador do Laboratório de Gestão Integrada das Zonas Costeiras da Universidade Estadual do Ceará (Uece), reconhece que já era esperado haver diferença de altura considerável entre o nível atual do aterro e o antigo nível da praia, após a conclusão da intervenção, tendo em vista que esse é um resultado comum em aterramentos.
Por esse motivo, o pesquisador indicou à Prefeitura que era necessário reforçar a equipe de salvamento aquático e espalhar placas de sinalização para alertar a população, uma vez que, em decorrência do desnível e da maior profundidade, as ondas chegam com alto potencial energético à faixa de areia, representando riscos aos banhistas.
Jornal O Povo - Concluídas em 2019, as obras de aterramento na Praia de Iracema proporcionaram uma faixa de praia mais larga. Contudo, as intervenções de engenharia também impactaram na refração das ondas e na mobilidade das areias que contornando os espigões. Dessa forma, em decorrência de um mar violento, muitos banhistas, principalmente nas proximidades do Espigão Rui Barbosa, passaram a optar por outros locais de banho.
Trabalhando vendendo bebidas há mais de três anos na Praia de Iracema, em dias alternados, Wagner de Freitas comenta que já presenciou diversos afogamentos na região. Felizmente, nenhuma morte no período em que atuava. “A gente fica mais despreocupado porque o pessoal tem mais consciência e não vai pro fundo, mas nós mesmos explicamos que é pra ter cuidado”, comenta o comerciante.
Wagner comenta, principalmente quando a maré está cheia, o mar da região próxima ao Espigão da Rui Barbosa, onde monta sua barraca de venda de bebidas, se torna ainda mais perigoso. Por conta disso, explica que na própria barraquinha faz a entrega de flutuadores para alguns banhistas.
“O mar daqui é traiçoeiro. Por isso quem vem mais é um pessoal que já sabe nadar. Mesmo assim, sempre ficamos de olho. Quando o mar está enchendo e a gente vê famílias com crianças, nós avisamos para sair do mar ou não entrar”, relata José Wagner.
Durante todo o período de 2023, houve registro de duas mortes por afogamento registradas na praia localizada no bairro Praia de Iracema. Os casos foram registrados no mês de julho. O serviço de salvamento na região, contudo, é área de responsabilidade Inspetoria de Salvamento Aquático (ISA) da Guarda Municipal de Fortaleza (GMF).
A Secretaria Municipal da Segurança Cidadã (Sesec), que gere a Inspetoria, não informou o quantitativo de resgates por afogamento na região da Praia de Iracema, em particular na região do Espigão Rui Barbosa, no ano passado ou anteriores. O POVO aguarda as informações solicitadas pela Lei de Acesso à Informação (LAI).
O doutor em Geografia Física e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles, comenta que a força e imprevisibilidade do mar da Praia de Iracema são decorrentes do aterramento da praia. “Os banhistas entram durante a maré alta e, em seguida, deparam-se com uma profundidade consideravelmente maior, que nós chamamos de cavas, por que foi depositada uma grande quantidade de areia na beira e isso gera um declive”, explica o professor.
FORTALEZA, CEARÁ, 27-01-2024: Posto 5 de salva-vidas, na Praia de Iracema. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo) Crédito: FERNANDA BARROS
Jeovah Meireles aponta ainda que, por conta das instalação dos espigões, a dinâmica das ondas e a sua refração nos equipamentos também mudam com frequência o fundo do mar, afetando, por conseguinte, a força e a direção das ondas. O solo do mar da Praia de Iracema é composto por “cristas”, quando o chão se molda em formato ondulado.
“Esse fluxo resulta em dificuldades para o banhista. Ele pode cair ao entrar nessa profundidade abrupta e, nesse ponto, ele se encontra com uma diversidade de frentes de onda, como as ondas de retorno”, ilustra.
De acordo com ele, após a conclusão da obra em 2019, tornou-se crucial realizar monitoramento constante e promover a regeneração contínua da areia no local, que está atualmente sofrendo processo erosivo. Esse processo é marcado pelo deslocamento de sedimentos da superfície. Antes da mais recente ampliação da faixa de areia, a Praia de Iracema já contava com 80 metros de aterro. No ano de 2019, foram adicionados mais 40 metros.
Segundo o professor da UFC, realizar outra grande intervenção para sanar as problemáticas envolvendo a força das ondas na Praia de Iracema seriam consideradas inviáveis. “Provavelmente, precisaria criar um grande piscinão para bloquear a entrada das ondas, para que ali tivesse um fundo mais previsível. Os espigões também são muito grandes, temos um 270 e outro de 240 metros”, comenta.
Para ele, a solução mais viável seria intensificar as ações educativas e de segurança na área. “Placas de sinalização de perigo, alertas pelas redes sociais, além de mais profissionais e postos de salva-vidas na região”, detalha Jeovah Meireles.
Sobre a ampliação de segurança no local, a Secretaria Municipal da Segurança Cidadã (Sesec) declarou que, “após a conclusão do concurso da Guarda Municipal de Fortaleza, que está em suas últimas fases, será possível um novo planejamento da Inspetoria de Salvamento, para um realinhamento dos postos de Guarda Vidas ao longo da orla”, disse em nota.
A pasta ainda informou que novas sinalizações para as áreas de banho da Praia de Iracema também serão redimensionadas seguindo o planejamento da segurança aquática da cidade.
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