28 de janeiro de 2025

Relatório indica existência de 3 bandas neonazistas no RN

Autor: Daniel Menezes

Do Saiba Mais - Por Valcdiney Soares - Um relatório produzido pela organização não-governamental Stop Hate Brasil indicou a existência de três bandas de black metal do Rio Grande do Norte com discursos extremistas associados ao neonazismo e ataques a judeus, comunidade LGBTQIA+ e negros.

Essas bandas brasileiras são adeptas do National Socialist Black Metal (NSBM), um movimento extremista que se utiliza do subgênero musical black metal, surgido nos anos 90, e é conhecido por suas letras e ideologias associadas à apologia ao nazismo, neonazismo, ao antissemitismo, supremacismo branco, racismo e a apologia à violência racial/étnica.

Ao todo, o levantamento indicou a existência de 125 bandas deste tipo no país. O relatório não nomeia e nem inclui a lista completa de bandas para evitar promoção involuntária ou publicidade indevida. A decisão de anonimização dos dados, segundo os pesquisadores, levou em consideração os potenciais impactos da publicação do relatório, priorizando recomendações práticas para combater o NSBM sem gerar publicidade para as bandas e indivíduos dessa subcultura extremista.

A maioria dos grupos está em São Paulo, com 45 bandas identificadas até o momento. Essa predominância, de acordo com o estudo, reflete a importância histórica e econômica da região, que facilita a disseminação de ideologias extremistas em redes locais e transnacionais. Por outro lado, a dispersão em estados como Rio Grande do Norte, Goiás e Sergipe demonstra a capacidade do movimento de atingir diferentes áreas do país, explorando redes digitais para superar barreiras geográficas e espalhar o ódio e a violência. 

Apesar desse levantamento, a origem de 48 bandas ainda não foi identificada, evidenciando o uso de estratégias deliberadas para ocultar localizações e evitar rastreamento. Entre essas táticas, destaca-se a utilização de múltiplos pseudônimos por indivíduos envolvidos, nomes de bandas e títulos de músicas em alemão ou inglês, e uma presença fragmentada em plataformas digitais que não expõem informações claras sobre os integrantes ou suas regiões de atuação.

Como as bandas foram identificadas

A Stop Hate Brasil empregou critérios sólidos e rigorosos para a identificação e classificação de bandas associadas ao National Socialist Black Metal (NSBM). Esses critérios incluíram a análise detalhada de capas e contracapas de álbuns, símbolos utilizados, títulos de álbuns, imagens de divulgação, a presença das bandas em sites e festivais do supremacismo branco global e voltados à disseminação do NSBM, títulos de músicas, análise das letras quando encontradas e o reconhecimento dessas bandas, pelos próprios círculos extremistas, como parte dessa subcultura. A Stop Hate Brasil também realizou consultas e reuniões com indivíduos especializados na própria cena do Black Metal.

Palavras como “Guerra, ” “Sangue, ” “88” (referência codificada ao ‘Heil Hitler’), “Judeus” , “Vitória” , antissemitismo/antissionismo violento e expressões associadas à gramática histórica nazista e neonazista (por exemplo referências à uma suposta dominação global de judeus, que neonazistas chamam de ZOG – governo de ocupação sionista) e “Ariano” aparecem repetidamente nos títulos das músicas. 

Esses termos, de acordo com o estudo produzido por Michele Prado e Ricardo Cabral Penteado, reforçam mensagens de supremacia racial, exaltação de hierarquias militaristas e apologia à violência. 

Exemplos de títulos como “Aryan Blood – Ancient Empire” (Sangue Ariano – Império Antigo) e “88 Shots in Your Race” (88 Tiros em Sua Raça) mostram como as bandas utilizam a linguagem para provocar e influenciar seus públicos. Ao inserir essas mensagens em suas músicas, as bandas não apenas promovem ideologias extremistas, mas também as utilizam como ferramentas de recrutamento, atingindo audiências no Brasil e no exterior. Outras músicas glorificam terroristas supremacistas e assassinos em massa; incitam violência direcionada contra a comunidade LGBTQ+ (“homokiller” , “homocaust” são dois exemplos) e o etnonacionalismo. 

Black Metal não pode ser reduzido à supremacistas, dizem pesquisadores

De acordo com Michele Prado e Ricardo Penteado, o Black Metal, como subgênero multifacetado e culturalmente significativo, não pode ser reduzido ou sequestrado por uma subcultura extremista que busca transformá-lo em veículo de intolerância, extremismo e violência. 

“O Black Metal é muito mais amplo e diversificado, incluindo bandas ativamente antifascistas que combatem as ideologias extremistas e discursos de ódio dentro da própria cena, como o movimento RABM (Red and Anarchist Black Metal)”, apontam.

O que é o NSBM

O relatório Sons do Ódio é especificamente sobre as bandas que fazem apologia ao nazismo, antissemitismo/racismo e supremacismo branco, violando a Lei 7.716/89, que criminaliza o racismo, crimes imprescritíveis e inafiançáveis.

Ao contrário da percepção inicial de que se tratava de um fenômeno marginal e restrito a pequenos grupos, o estudo conduzido pelos pesquisadores destaca que o NSBM no Brasil tem se expandido de forma significativa, mantém uma rede estruturada e interliga-se com movimentos neonazistas e bandas extremistas do supremacismo branco de diversas partes do mundo. 

De acordo com a pesquisa, a subcultura extremista NSBM no Brasil não é apenas uma manifestação periférica, mas uma subcultura relevante que encontra apoio e difusão tanto no território nacional quanto no cenário global. As bandas NSBM utilizam a música como ferramenta para espalhar discursos de ódio, angariar recursos financeiros para ecossistemas extremistas globais e recrutar e radicalizar indivíduos, especialmente mais jovens, o que é amplificado pelo ambiente digital. O estudo revela também a criação de múltiplos pseudônimos por parte de músicos ligados a esse movimento, além da utilização de plataformas de streaming e redes sociais para disseminar suas mensagens extremistas.

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