7 de fevereiro de 2025

Dólar e Bolsa caem após dados de emprego 'payroll' dos EUA

Autor: Daniel Menezes

(FOLHAPRESS) - O dólar apresenta leve queda nesta sexta-feira (7), com investidores digerindo o relatório de emprego "payroll" (folha de pagamento, em inglês) dos Estados Unidos.

Às 11h29, a moeda americana recuava 0,11%, a R$ 5,757. Já a Bolsa caía 0,31%, aos 125.823 pontos.

Principal dado da semana, o payroll mostrou que 143 mil postos de trabalho foram abertos em janeiro, abaixo das expectativas de 170 mil vagas de economistas consultados pela Reuters. O resultado, segundo especialistas, pode ter sido afetado pelos incêndios que tomaram a Califórnia no último mês e pelo clima frio.

A taxa de desemprego desacelerou para 4%, ante 4,1% da leitura anterior. Já os ganhos médios por hora aumentaram 0,5%, após 0,3% em dezembro.

A resiliência do mercado de trabalho dos EUA tem sido a força motriz por trás da expansão econômica do país e um dos motivos pelos quais o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) pausou os cortes na taxa de juros na última reunião de política monetária.

O dado indica que há um arrefecimento gradual da empregabilidade por lá, o que fortalece a tese de que há ainda espaço para mais afrouxamento monetário por parte do banco central.

"A criação de vagas veio abaixo do esperado, mas a taxa de desemprego subiu menos que as estimativas, enquanto os ganhos por hora trabalhada superaram as projeções. Esses dados abriram espaço para apostas no início dos cortes de juros nos EUA, com um Fed mais dovish [favorável a taxas de juros mais baixas]", diz Marcio Riauba, chefe da mesa de operações da StoneX Banco de Câmbio.

O Fed deixou a taxa básica de juros inalterada na faixa de 4,25% a 4,5% no mês passado, depois de tê-la cortado em 1 ponto percentual desde o início do ciclo de flexibilização, em setembro. A expectativa dos mercados é que um novo corte aconteça em junho, segundo a ferramenta CME Fed Watch.

Há um obstáculo para as metas do Fed: a política tarifária do presidente dos EUA, Donald Trump, de alto potencial inflacionário.

Cumprindo uma promessa de campanha, o republicano, no sábado (1º), assinou um decreto que aplicava taxas adicionais sobre todas as importações do Canadá, México e China. De lá para cá, porém, Trump costurou acordos com as lideranças dos países vizinhos, ainda que tenha mantido as medidas contra os chineses.

A imposição de tarifas sobre o México e o Canadá foi suspensa por um mês, após ambos os países reforçarem a segurança nas fronteiras com 10 mil agentes de cada lado.

A manobra demonstrou a disposição de Trump em usar tarifas como barganha ante parceiros comerciais importantes, apesar de potenciais efeitos negativos para a própria economia americana. Até então, tarifas de 25% sobre importações do México e do Canadá, impostas no decreto de sábado, seriam uma espécie de sanção para os fluxos de imigrantes indocumentados para os Estados Unidos e de opioides fentanil.

A única exceção seria sobre os fornecimentos de petróleo e energia canadenses, sobre os quais os EUA são mais dependentes e que teriam uma taxa menor, de 10%.

As tarifas de 10% contra produtos da China, no entanto, estão em vigor desde terça-feira. A medida resultou em represália.

O Ministério das Finanças da China anunciou que vai impor taxas de 15% para carvão e gás natural dos EUA e 10% para petróleo bruto, equipamentos agrícolas e alguns automóveis, como caminhões elétricos da Tesla, de Elon Musk. Também terão início investigações antimonopólio sobre o Google, da Alphabet.

As novas tarifas da China sobre as exportações norte-americanas começarão em 10 de fevereiro, dando a Washington e Pequim tempo para tentar chegar a um acordo que as autoridades chinesas indicaram que esperam alcançar com Trump.

Ainda que tenha se mostrado menos agressiva do que se esperava até aqui, a política tarifária do republicano tem o potencial de aumentar custos para os consumidores norte-americanos, o que pode comprometer a briga do Fed contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados —o que fortalece o dólar.

Já na cena doméstica, investidores analisam comentários do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista à Rádio Cidade, de Pernambuco, mais cedo.

Segundo ele, a eleição de Trump motivou, no fim do ano passado, a alta no dólar, o que teria encarecido os combustíveis e os alimentos.

"Depois da eleição do Trump, teve uma disparada no dólar, e a gente exporta gasolina e diesel, e isso tem um reflexo nos preços", disse. A pressão sobre o bolso do consumidor, segundo Haddad, deve melhorar com o alívio recente no câmbio, a safra recorde projetada para 2025 e o fim do ciclo do boi, quando os pecuaristas diminuem os rebanhos para valorizar o valor por cabeça de animal.

O patamar da moeda norte-americana tem arrefecido desde o início do ano. Analistas pontuam que a cotação estava atingindo patamares exagerados no Brasil, com os investidores repercutindo temores em relação ao cenário fiscal brasileiro. A divisa chegou a renovar o recorde histórico para R$ 6,267.

O exagero, na visão de especialistas, forneceu espaço para a correção observada neste início de ano. Até quarta-feira, a moeda estava em uma sequência de 12 dias consecutivos de queda —a maior em 20 anos.

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