1 de março de 2025
A guerra fria entre Nikolas e Bolsonaro
Autor: Daniel Menezes
Do Estado de Minas
Por Ana Mendonça
No tabuleiro político de Minas Gerais, onde alianças se fazem e desfazem com a velocidade de uma recontagem de votos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) decidiu que tem um novo projeto para o estado. Mas, na guerra fria que se trava nos bastidores, o capitão reformado está com dificuldades para alinhar sua estratégia com o soldado mais conhecido de sua tropa.
Nikolas Ferreira (PL-MG), deputado mais votado do Brasil em 2022 e rosto jovem do bolsonarismo, vem sendo discretamente escanteado no campo da batalha mineira. Nos bastidores, Bolsonaro prefere tratar Minas com outros parlamentares, enquanto Nikolas precisa de intermediários para garantir audiência com o ex-presidente.
A relação azedou de vez durante a eleição para a presidência da Câmara, quando Nikolas anunciou com todas as letras que votaria em Hugo Motta porque “Bolsonaro mandou”. A declaração caiu mal. O ex-presidente não gostou de parecer um líder de seita, sem voz própria, e, pior, não gostou de ver Nikolas divulgando sua articulação, ainda mais quando a base bolsonarista nas redes sociais clamava pela candidatura de Marcel van Hattem (Novo-RS).
Desde então, o desconforto só cresceu. Nikolas nem sequer foi avisado da mudança do ato pelo impeachment de Lula (PT) para Copacabana – estratégia de Bolsonaro para dar dimensão internacional à manifestação e se vender como perseguido político, numa tentativa de mudar a narrativa sobre o indiciamento pela tentativa de golpe de 8 de janeiro. O deputado afirmou publicamente que ainda não sabe se irá ao ato, já que a data coincide com o aniversário de sua primogênita, Aurora.
O distanciamento, no entanto, tem um motivo maior: Bolsonaro quer Nikolas como seu puxador de votos em Minas, garantindo uma bancada fiel na Câmara. O plano é ambicioso: transformar o parlamentar em uma máquina de votos, superando até Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e garantindo cerca de 20 cadeiras para o PL no estado.
Mas, se esse é o plano do capitão, Nikolas não pretende ser apenas um cabo eleitoral de luxo. Ele tem construído sua própria base, reunindo prefeitos e vereadores que não são apenas bolsonaristas, mas “nikolistas”. Isso incomoda – e muito. A dobradinha com Bruno Engler (PL) para a Assembleia de Minas acabou. Agora, Nikolas quer empurrar seus próprios aliados para o Legislativo mineiro, como o vereador Pablo Almeida (PL) e até seu pai, o pastor Edésio de Oliveira.
Enquanto Nikolas briga por espaço, Bolsonaro tem outros planos para Minas. O ex-presidente deseja um aliado de peso no Senado e tem conversado com Cleitinho, que reluta em deixar o Republicanos para se filiar ao PL e disputar o governo do Estado. O motivo? Parte do seu eleitorado ainda torce o nariz para o 22 nas urnas. O senador ponderou isso com Bolsonaro, mas o ex-presidente acredita que o impacto será pequeno quando o assunto for a disputa pelo Palácio Tiradentes. Os dois vão se reunir novamente após o carnaval.
Com Cleitinho no PL, Bolsonaro ainda ganharia espaço para indicar dois nomes ao Senado. As opções já estão na mesa: Domingos Sávio, presidente do PL mineiro, é um nome cogitado, mas sem o entusiasmo do ex-presidente. No horizonte, aparecem ainda Vile do Santos, vereador de Belo Horizonte, que tem idade perfeita para a disputa, e até Paulo Guedes, ex-ministro da Economia – este último, um sonho improvável, mas que renderia boas manchetes.
Enquanto isso, a política de Belo Horizonte segue com suas próprias turbulências. Com o prefeito Fuad Noman (PSD) internado, Álvaro Damião (União Brasil) pode assumir oficialmente a prefeitura. Mas, se esse é o desejo do ex-jornalista, nos bastidores já há movimentações para derrubá-lo, o que levaria o professor Juliano Lopes (Podemos) ao comando da cidade e forçaria novas eleições. E quem já começa a enxergar uma nova oportunidade? Bruno Engler, claro, que esteve no segundo turno contra Fuad.
A direita mineira eá longe de ser um bloco monolítico. O que se vê é uma disputa velada, onde Bolsonaro segue sendo a principal referência, mas já enfrenta concorrência dentro do próprio campo.
Nikolas quer seu império, Bolsonaro quer seu exército e Cleitinho quer votos de todos os lados. No meio disso tudo, o eleitor mineiro assiste ao embate, sem saber quem sairá vitorioso – se é que alguém sairá inteiro dessa guerra fria.
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