2 de março de 2025
Puxada pelo emprego, renda das famílias cresce e indica redução da desigualdade
Autor: Daniel Menezes
O Globo - A notícia de que o renda domiciliar por pessoa nominal cresceu 9,3%, conforme divulgado pelo IBGE na sexta-feira, reforça a perspectiva de um crescimento inclusivo no Brasil, com queda na desigualdade de renda. Um sinal de melhora após a estagnação observada na desigualdade em 2023, mesmo em um ano de forte expansão da renda. É como avaliam economistas, após a divulgação dos dados pelo instituto.
Essa expectativa já vinha sendo avaliada quando foram divulgados os dados do rendimento médio trimestral dos estados. Pelas contas de Marcelo Neri, diretor da FGV Social, a renda domiciliar per capita do trabalho, já descontada a inflação, cresceu 7,08% no quarto trimestre de 2024 frente igual período do ano anterior. Só no Nordeste, o avanço foi de 13%. Isso num trimestre em que a inflação e o dólar estavam mais altos.
Este indicador mede exclusivamente a renda do trabalho, seja formal ou informal, e é um parâmetro relevante para avaliar a qualidade sustentável do crescimento econômico, já que não inclui benefícios sociais, como o Bolsa Família.
— A grande novidade que esses dados vão mostrar, seguindo os dados de renda de trabalho, é a queda da desigualdade. A desigualdade, embora no menor nível da série em 2023, estava empatada com 2022 — diz Neri.
Segundo o economista, embora o crescimento da renda não tenha sido tão forte quanto em 2023, o avanço superou o PIB e trouxe sinais concretos de redução da desigualdade. Em termos reais, o rendimento médio por pessoa, já ajustado pela inflação, cresceu 4,7% em 2024.
Neri calcula que a renda do trabalho da metade mais pobre da população cresceu 10,7% em 2024. Já o do grupo intermediário, considerada a classe C ou a “nova classe média baixa”, a alta foi de 8,7%, enquanto o rendimento dos 10% mais ricos subiu 6,7%.
A renda do trabalho leva em conta fatores como o impacto do desemprego e da informalidade. Do crescimento de 10,7% da metade mais pobre, cerca de 3,9 pontos percentuais vieram da redução do desemprego, representando mais de um terço do avanço. Outros fatores que contribuíram para esse crescimento fora o aumento da jornada de trabalho, a maior taxa de participação no mercado de trabalho e a expansão da educação e do seu retorno.
Para Neri, os dados são animadores porque mostram que o crescimento inclusivo não se deve apenas aos programas sociais, mas também ao mercado de trabalho. No entanto, para 2025, a perspectiva ainda exige cautela:
— Temos que aguardar (novos números). O mercado de trabalho não dá sinais de arrefecimento, apesar do movimento de alta da taxa básica de juros, que tem um efeito defasado.
Um crescimento real da renda por pessoa na casa de 4,7% em 2024 significa que a renda das famílias está aumentando, inclusive acima do que cresceu a atividade econômica brasileira, já que as projeções giram em torno de crescimento de 3,5% do PIB. E este aumento, segundo Marcos Hecksher, economista e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), está ocorrendo, principalmente, por conta do emprego e não por conta dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.
Trata-se de um cenário inverso ao observado em 2023, quando o Bolsa Família teve um papel mais determinante na elevação da renda das famílias que o crescimento do emprego. De acordo com Hecksher, a massa de rendimentos do país cresceu 5,2% em termos reais no ano passado. No entanto, quando se considera apenas a renda proveniente do trabalho, o crescimento foi ainda maior, chegando a 6,4%.
— É um aumento do rendimento das famílias puxado pelo trabalho. O trabalho está crescendo mais do que as outras rendas. Ao contrário do que aconteceu em 2023. Teve expansão do BF muito forte em 2023, e 2024 teve outros acréscimos, mas não teve esse ganho que houve em 2024.
Apesar do avanço na renda per capita puxado pelo mercado de trabalho, Hecksher avalia que há riscos de desaceleração do emprego este ano, especialmente devido à manutenção de juros elevados, uma estratégia adotada para conter a inflação. Ele argumenta, contudo, que o Brasil precisa crescer acima da média global para recuperar o terreno perdido nas últimas décadas.
— Historicamente, o país já teve um PIB per capita superior ao da média mundial. No entanto, sucessivas crises reverteram esse cenário. No auge, em 2011, o Brasil chegou a estar 12,9% acima da média global quando ajustado pela paridade do poder de compra. Já em 2021, esse indicador caiu para 8,4% abaixo da média mundial. Se as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) se confirmarem, em 2024 esse hiato deve se reduzir para 7,5%.
Para sustentar o crescimento do PIB per capita sem comprometer o emprego, a melhor estratégia é elevar a produtividade, diz ele:
— Produtividade sem reduzir o emprego (para controlar a inflação) é o melhor remédio. E isso pode ser feito via crescimento econômico.
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