21 de março de 2025
Fenômenos prometidos como superados em projeto: alagamentos e voçorocas que deixam a faixa de areia inferior a 50 metros são a comprovação de que a Engorda de Ponta Negra já precisa de reparos
Autor: Daniel Menezes
A prefeitura tem dado explicações desencontradas e contraditórias a respeito do que acontece na engorda da praia de ponta negra. Só que, confrontando o projeto com o que efetivamente acontece agora, fica claro que a engorda já necessita de reparos em contexto semelhante ao que ocorreu em Balneário Camboriú, na intervenção feita pela mesma empresa que atuou aqui em Natal. Vamos a uma sumarização.
Primeiro, o secretário de meio ambiente da prefeitura alegou, em texto publicado pelo próprio site da prefeitura e distribuído à imprensa, que os alagamentos seriam temporários e, após a finalização da drenagem, eles desapareceriam.
PROMESSA NÃO CUMPRIDA DE EVITAR ALAGAMENTOS E FORMAÇÃO DE VOÇOROCAS
Seguem suas palavras com aspas:
"A drenagem nova e mais moderna evita as chamadas voçorocas, que formavam sulcos na areia e arrastavam o material. Com essa nova drenagem, isso não ocorre mais. Pode vir a acontecer, eventualmente, pequenos lagos, principalmente na fase de finalização do sistema de drenagem. Quando a drenagem for 100% finalizada, episódios como esses não ocorrerão mais", finaliza Thiago Mesquita em 27 de Janeiro ed 2025 (texto aqui).
Ora, é notório que a finalização da drenagem não evitou a formação de valas, as chamadas voçorocas, nem muito menos a geração de alagamentos. Nas duas últimas chuvas fortes a faixa de areia ficou completamente alagada e voçorocas se constituíram.
50 METROS DE FAIXA DE AREIA EM SITUAÇÃO DE MARÉ ALTA
Mas o que diz exatamente o projeto, aquele que está anexado junto a defesa civil nacional do ministério da integração? O escopo garante que, com a conjunção de duas variáveis - maré alta e chuva intensa -, pode ocorrer uma diminuição da faixa de areia de 100 para 50 metros. A própria prefeitura do Natal, através de release distribuído à imprensa, também atestou esta previsão publicamente (mas já em contradição o que alardeava antes).
Segue:
"A obra da engorda é, na prática, um aterro hidráulico que, quando finalizado, proporcionará à praia de Ponta Negra e uma parte da Via Costeira uma faixa de areia aumentada em até 100 metros na maré baixa e 50 metros na maré alta, em todo os seus 4 km de engorda", finaliza o texto do Agora RN do dia 27 de Dezembro de 2024 (texto aqui).
Não é preciso ser especialista para saber que a faixa formada é bem inferior a 50 metros apenas quando chove, não necessariamente em situação de maré alta. Basta olhar as imagens. Por que isto ocorre?
A ENGORDA JÁ NECESSITA DE NOVO ENGORDAMENTO
O blog conversou com algumas fontes da prefeitura e o entendimento, apesar de não ser ainda conclusivo, é que, com a erosão formada pelas chuvas na engorda finalizada antes da drenagem, parte do aterro já pode ter sido levado de volta para o mar. Este processo é inevitável, sendo que o seu desenvolvimento é bastante gradual. Como a Prefeitura fez a engorda e a deixou desprotegida sem anteparo de drenagem, esse processo acabou acontecendo de maneira mais acelerada.
A percepção interna na prefeitura é que a engorda já deveria passar por novo engordamento, de maneira semelhante ao que aconteceu na praia de Balneário Camboriú em que a mesma empresa que executou a obra aqui em Natal teve de efetuar reparos com menos de um ano após a finalização da instalação do aterro hidráulico.
A prefeitura tem um contrato de assistência com a empresa executora da engorda e deveria tentar acioná-lo para dirimir possíveis custos extras para o poder público posteriormente. Assim uma fonte técnica resumiu para este blog.
O problema é que isto implica em admitir que a obra foi mal feita, o que acarretaria em custo político inimaginável. Daí agora a prefeitura do Natal aparecer com uma terceira versão mais recente, a de que tudo funciona na sua mais perfeita normalidade.
Esta pressão para a correção do projeto tem de vir dos órgãos de controle, da oposição e da sociedade, até para que o município não seja duplamente penalizado - primeiro, com uma obra que não funciona como deveria; segundo, com o fato de que, logo logo, o próprio poder público terá de desembolsar recursos para aplicar as devidas correções. Quanto mais tempo demorar, mais a erosão acelerada cobrará uma intervenção mais significativa e custosa.
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