30 de março de 2025
Fenômeno novo na imprensa de Natal
Autor: Daniel Menezes
Há um fenômeno novo na imprensa de Natal - veículos tradicionais estão deixando completamente de lado os critérios de noticiabilidade virando páginas eminentemente políticas. Diário de Natal e Tribuna do Norte do passado poderiam até não enfatizar uma pauta, mas a notícia não deixaria de ser dada se tivesse relevância. Só que agora jornais, comunicadores e jornalistas deixaram de lado o ofício e passaram a funcionar como políticos e empresários. A coloração jornalística desbota a passos largos.
Por exemplo, a emenda de Styvenson enviada pela prefeitura do Natal para outra cidade segue completamente ignorada. Não há ilação, mas farta documentação oficial. Trata-se de tema central para entender a lógica de distribuição de emendas federais no RN. Também desmancha diretamente o modo como o senador atacou por anos os seus adversários, alegando falta de fiscalização.
Outro exemplo. Ontem, mais uma vez, a engorda de ponta negra alagou em toda a faixa de areia. Sequer choveu. Estamos falando de uma obra de 100 milhões de reais que, recentemente inaugurada, não funciona como deveria conforme escopo do projeto.
Agora, o MPRN desmonta também objetivamente o discurso municipal sobre a construção do hospital, colocando Álvaro Dias como mentiroso e criando embaraço sobre o modo como o equipamento foi usado na campanha de 2024. Até agora, só O Potiguar veiculou as informações. Depois, veio a tribuna, mas deu a versão da prefeitura. No mais, ele foi também ignorado.
É de se compreender que um veículo, pela sua proximidade ideológica com um campo, apresente pauta mais específica. A inclinação editorial é do jogo. Mas tem hora que a realidade precisa ser falada, ainda que com viés ideológico.
Não há imparcialidade, mas a objetividade é sim possível. Isto é, os fatos e os pressupostos pelos quais eles são analisados devem ser claramente apresentados ao leitor. Para um veículo, uma greve dos professores pode ser boa ou ruim a partir do modo como ele entende as nuances da situação. Mas ela existe e não pode ser escondida como acontece com as contradições a respeito das emendas de Styvenson e os erros na engorda de ponta negra.
Com uma imprensa assim, a sociedade perde um relevante espaço para a exposição de problemas públicos. E a perspectiva, com a proximidade da eleição, é que este movimento se acentue. Não o contrário.
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