6 de abril de 2025

Milei viaja aos EUA para obter apoio de Trump, mas volta à Argentina de mãos vazias

Autor: Daniel Menezes

Do RFI - O presidente argentino, Javier Milei, viajou aos Estados Unidos por 24 horas apenas para se reunir com Donald Trump, mas, segundo os organizadores da viagem, deixou o local do encontro 20 minutos antes da chegada do colega norte-americano. A repentina viagem a Mar-a-Lago, na Flórida, buscava apoio político para um empréstimo do FMI e para um acordo comercial que amenize o “tarifaço” promovido pelo líder republicano.

Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

“Tudo corria bem até que, de repente, Milei foi embora. Cerca de 20 minutos depois, Trump chegou. Os dois presidentes teriam uma reunião privada para a qual estava tudo preparado. Não entendemos por que Milei foi embora”, descreveu Glenn Parada, diretor-executivo do MACA (Make American Clean Again), a entidade organizadora do evento, dedicado à limpeza de espaços públicos e ao combate do tráfico de crianças.

Em Buenos Aires, o governo argentino difundiu a versão de que Trump se atrasou por ter tido um problema com o helicóptero, algo que o organizador desmente. “Estava tudo pronto para os dois se reunirem. Nós sabíamos que Trump chegaria mais tarde. Não sabemos qual informação o governo argentino tinha para abandonar o evento”, contou Parada.

“O chanceler Werthein ficou furioso porque Trump não chegava. Se eles estivessem esperado 20 minutos, teriam tido uma reunião. Werthein estava fora de si”, relembrou Parada.

Antes do evento, o ministro argentino das Relações Exteriores garantia que Milei e Trump se reuniriam. “Seguramente, haverá um encontro informal com o presidente Trump. Prevemos esse encontro com Donald Trump na sua casa”, disse Gerardo Werthein na quarta-feira (2), quando, repentinamente, Javier Milei decidiu viajar aos Estados Unidos.

Viagem em vão

No entanto, os dois presidentes não se cruzaram. O argentino ficou sem a foto do encontro que lhe daria um sinal de apoio político em meio à nova rodada de tarifas de importação anunciadas por Trump, e em um momento frágil da sua política cambial, que valoriza artificialmente o peso argentino às custas de reservas negativas no Banco Central. Milei não conseguiu conversar com Trump sobre a necessidade de um apoio político da diretoria do Fundo Monetário Internacional e de uma negociação que amenize o impacto do “tarifaço” de Trump na economia argentina.

O objetivo formal da viagem de Milei era o evento de gala “Americanos Patriotas” (American Patriots, em inglês), realizado na noite desta quinta-feira (3) em Mar-a-Lago, residência de verão de Donald Trump, em West Palm Beach. Os organizadores convidaram o argentino de última hora para receber o prêmio “Leão da Liberdade” (“Lion of Liberty Award”), dedicado a personalidades comprometidas com a liberdade econômica, o mercado livre e os valores conservadores.

Donald Trump era o outro homenageado na noite de gala e o argentino viu nessa premiação a chance de um encontro informal com o amigo, com quem mantém uma “relação estratégica”. Porém, esgotado de uma intensa agenda num dia de turbulências financeiras no mundo, Trump chegou a Mar-a-Lago apenas às 22h51 (horário local). Antes, ainda passou pela sua residência, no setor privado do complexo.

Ao entender que Trump não iria mais ao evento, Milei retirou-se e foi diretamente para o aeroporto, de onde voltou a Buenos Aires.

Milei acata a nova ordem

O presidente argentino aceitou a política de reciprocidade tarifária imposta por Donald Trump e prometeu atender os condicionamentos para tentar zerar as tarifas nos 50 produtos mais exportados pela Argentina aos Estados Unidos.

“A Argentina vai avançar para readequar a sua normativa para cumprir com os requerimentos da proposta de ‘tarifas recíprocas’, elaborada pelo presidente Donald Trump. Já cumprimos com nove dos 16 requerimentos necessários e dei instruções para avançarem com os requerimentos restantes”, anunciou Milei, num breve discurso durante o evento.

“Estamos comprometidos em tomar medidas necessárias para resolvermos a assimetria com os Estados Unidos num prazo breve. Vamos avançar com a harmonização das tarifas de uma cesta de 50 produtos para que fluam mais livremente entre as nossas duas nações”, apontou o argentino.

A repentina viagem de Milei a West Palm Beach aconteceu enquanto o seu chanceler, Gerardo Werthein, reunia-se, em Washington com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e com Jamieson Greer, chefe da agência responsável pelas tarifas, a United States Trade Representative.

Nessa reunião, Argentina e Estados Unidos exploraram um caminho para atenuar ou neutralizar o impacto do “tarifaço” de Trump que impôs um aumento generalizado de 10% em todas as exportações argentinas. A negociação tem uma premissa simples: primeiro a Argentina acata as exigências, depois tenta uma redução tarifária.

Missão descumprida

O presidente argentino viajou com o seu ministro da Economia, Luis Caputo, quem não cumpriu nenhum papel relevante ao não obter um apoio político na reta final da negociação por um acordo financeiro com o Fundo Monetário Internacional. Os Estados Unidos são os principais acionistas do FMI e a pressão política de um presidente norte-americano é capaz de superar questões técnicas.

Javier Milei celebrou que Trump “só” tenha aplicado um aumento tarifário de 10% sobre a Argentina. Chegou a publicar nas redes sociais a canção do grupo Queen, “Friends Will Be Friends” ("Os amigos serão amigos"), em alusão à sua amizade com Donald Trump.

Porém, apesar da sintonia ideológica e da amizade política entre Milei e Trump, a administração norte-americana impôs à Argentina os mesmos 10% de tarifa que recebeu a maioria dos países sul-americanos, como Brasil, Colômbia, Chile e Bolívia, com governos ideologicamente distantes de Trump.

Em apenas um ano e três meses de governo, esta é a décima viagem de Milei aos Estados Unidos e a terceira em dois meses e meio de governo Trump, mas a primeira que resultou em um fiasco.

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