21 de abril de 2025

Bem-humorado, torcedor do San Lorenzo e primeiro papa latino-americano: conheça a trajetória de Francisco

Autor: Daniel Menezes

Do G1 - Jorge Mario Bergoglio, o papa Franciscomorreu aos 88 anos nesta segunda-feira (21). O pontífice ficou conhecido pelo seu perfil carismático e pelas reformas que promoveu na Igreja Católica. Ao longo da carreira, antes de ser papa, o argentino também estudou química e trabalhou como professor.

 

Nascido em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, Francisco foi o primeiro papa latino-americano da história. Ele também foi o primeiro pontífice da era moderna a assumir o papado após a renúncia de seu antecessor e, ainda, o primeiro jesuíta no posto.

 

À frente da Igreja Católica por quase 12 anos, Francisco foi o papa número 266. Em 13 de março de 2013, durante o segundo dia do conclave para eleger o substituto de Bento XVI, Bergoglio foi escolhido como o novo líder – inclusive contra sua própria vontade, segundo ele mesmo admitiu.

 

Mas a carreira no catolicismo foi uma escolha própria do argentino. Formado em Ciências Químicas e professor de Literatura, o religioso, filho de imigrantes italianos, acabou se dedicando aos estudos eclesiásticos.

O perfil jovial e descontraído do religioso fez com que ele se tornasse uma opção popular entre os colegas cardeais e uma escolha ideal para a Igreja, que vivia um de seus momentos mais delicados.

Nesta reportagem você vai ver:

 

  1. Religioso argentino
  2. Carreira antes de ser papa
  3. Como Jorge virou Francisco
  4. Reformas na Igreja Católica
  5. Posturas progressistas
  6. Saúde e morte

 

 

 

1. Religioso argentino

 

Retrato da juventude de Jorge Mario Bergoglio foi divulgado por sua família na Argentina — Foto: Reuters/Cortesia da família Bergoglio

Retrato da juventude de Jorge Mario Bergoglio foi divulgado por sua família na Argentina — Foto: Reuters/Cortesia da família Bergoglio

Francisco nasceu em Buenos Aires, em 1936. Seus pais, ambos italianos, chegaram à Argentina em 1929, junto a uma leva de imigrantes europeus em busca de oportunidades de trabalho na América.

Arcebispo da capital argentina, ele era considerado um homem tímido e de poucas palavras, mas com grande prestígio entre seus seguidores. O religioso era admirado por sua total disponibilidade e seu estilo de vida sem ostentação.

O argentino também era reconhecido por seus dotes intelectuais, por ser considerado dialogante e moderado, além de ter paixões pelo tango e pelo time de futebol San Lorenzo.

Antes de seguir carreira religiosa, Bergoglio formou-se técnico químico. Depois, ingressou em um seminário no bairro de Villa Devoto.

 

 

2. Carreira antes de ser papa

 

O então cardeal Jorge Mario Bergoglio posa para foto segurando uma flâmula do seu time — Foto: Club Atlético San Lorenzo de Almagro/AP

O então cardeal Jorge Mario Bergoglio posa para foto segurando uma flâmula do seu time — Foto: Club Atlético San Lorenzo de Almagro/AP

 

Em março de 1958, Bergoglio entrou no noviciado da Companhia de Jesus, congregação religiosa dos jesuítas, fundada no século XVI.

Em 1963, o religioso estudou humanidades no Chile e voltou à Argentina no ano seguinte para ser professor de literatura e psicologia no Colégio Imaculada Conceição de Santa Fé.

Entre 1967 e 1970, estudou teologia e acabou sendo ordenado sacerdote no dia 13 de dezembro de 1969. Em menos de quatro anos, chegou a liderar a congregação jesuíta local, um cargo que exerceu de 1973 a 1979.

Foi reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel entre 1980 e 1986 e, depois de completar sua tese de doutorado na Alemanha, serviu como confessor e diretor espiritual em Córdoba. Em 1992, Bergoglio foi nomeado bispo titular de Auca e auxiliar de Buenos Aires.

Em 1997, ele se tornou arcebispo titular de Buenos Aires. Em 2001, foi nomeado cardeal e primaz da Argentina pelo papa João Paulo II. Entre 2005 e 2011, ocupou a presidência da Conferência Episcopal do país durante dois períodos.

 

 

3. Como Jorge virou Francisco

 

Papa Francisco acena para fiéis — Foto: AP

Papa Francisco acena para fiéis — Foto: AP

Francisco foi eleito papa no dia 13 de março de 2013. Ele substituiu Bento XVI, que resolveu renunciar ao cargo ao alegar falta de ânimo e vigor para governar a Igreja Católica.

À época, a Igreja Católica passava por uma grave crise moral e de confiança, principalmente por causa dos escândalos de pedofilia envolvendo padres ao redor do mundo.

Francisco chegou com a missão de reverter a queda na popularidade da Igreja e conquistar novos fiéis, principalmente os mais jovens. Ele acabou sendo eleito papa no segundo dia de conclave por ser visto como um religioso de perfil jovial e descontraído.

 

Em seu primeiro encontro com a imprensa internacional, o papa disse que escolheu o nome "Francisco" por influência do cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes.

"Quando os votos chegaram aos dois terços, começaram a aplaudir, porque o papa tinha sido eleito. E ele [Dom Cláudio Hummes] me abraçou, me beijou e disse: ‘Não se esqueça dos pobres’", lembrou o pontífice, em 2013.

 

"Aquela palavra entrou na minha cabeça: os pobres. Pensei em Francisco de Assis. Depois pensei nas guerras, enquanto a apuração prosseguia. E Francisco é o homem da paz. E assim o nome saiu do meu coração: Francisco de Assis. Como eu queria uma Igreja pobre, para os pobres."

 

Em latim, o lema do papado de Francisco foi "Miserando atque eligendo" — "Olhou-o com misericórdia e o escolheu", em português.

 

 

4. Reformas na Igreja Católica

 

Em 2017, papa já havia criticado a tradução do trecho 'não nos induzais à tentação' — Foto: AFP

Em 2017, papa já havia criticado a tradução do trecho 'não nos induzais à tentação' — Foto: AFP

As reformas da Igreja Católica também foram outra marca de Francisco. Ele iniciou um processo de reformulação das estruturas da Cúria, que é o governo do Vaticano, com atenção especial para a parte econômica e financeira.

Francisco parecia impulsionado por uma missão urgente: incentivar uma Igreja, desertada em alguns países, a acompanhar com misericórdia os católicos em situações irregulares.

 

"Podemos falar de uma revolução, nos passos do Concílio Vaticano II (1962-1965), que abriu a Igreja ao mundo moderno", disse à AFP o especialista em Vaticano Marco Politi, em 2016.

 

Politi classifica Francisco como "um grande reformador” que tentou fazer "com que a Igreja abandonasse sua obsessão histórica em tabus sexuais".

 

O argentino foi eleito, entre outros motivos, para continuar a reestruturação econômica da Santa Sé iniciada sob Bento XVI, com medidas como o fechamento de contas suspeitas no banco do Vaticano, por muito tempo acusado de lavagem de dinheiro.

"Em termos de doutrina, ele [papa Francisco] não mudou nada. Neste sentido, nunca fez parte dos progressistas", afirmou Politi. Segundo o especialista, o papa não tinha a intenção de ordenar padres casados ou mulheres e se mostrou horrorizado com o aborto. Ele gostaria que seu trabalho reformista tivesse "continuidade".

 

5. Posturas progressistas

 

Funcionário cobre cartaz que acusa o papa Francisco de atacar católicos conservadores — Foto: REUTERS/Max Rossi

Funcionário cobre cartaz que acusa o papa Francisco de atacar católicos conservadores — Foto: REUTERS/Max Rossi

O papa tinha um forte consenso entre os fiéis e, também, entre alguns agnósticos e não-crentes. Mas ele não agradava aos ultraconservadores, que tentavam desacreditá-lo. Como papa, Francisco enfrentou assuntos delicados para a igreja, como os direitos LGBTQIA+ e o sexismo.

Ele foi o primeiro papa a ter convidado um transexual ao Vaticano e se recusou a julgar os homossexuais. Para Francisco, a igreja era um “hospital de campanha, não um posto alfandegário", que separa os bons e maus cristãos, disse o especialista Marco Politi.

Ele foi elogiado por avanços, como ao permitir bênçãos de padres a casais do mesmo sexo, mas acabou sendo alvo de polêmicas ao dizer que existia "bichice demais" nos seminários, em 2024. À época, Francisco pediu desculpas pelas afirmações.

O pontífice também ficou conhecido por colocar mulheres em cargos mais altos no Vaticano e permitir que elas votassem no Sínodo dos Bispos — a reunião em que bispos debatem e decidem questões ideológicas e regimentos internos.

Por outro lado, ele foi criticado por não adotar as medidas necessárias para autorizar sacerdotes do sexo feminino na igreja, que é uma reivindicação histórica de parte das mulheres católicas.

O papa defendia que apenas cristãos do sexo masculino poderiam ser ordenados para o sacerdócio, usando como base a premissa da Igreja Católica de que Jesus escolheu homens como apóstolos.

Francisco também fez vários discursos políticos durante sermões. Ele não poupou críticas a líderes de países em guerra, como o russo Vladimir Putin e o israelense Benjamin Netanyahu. O papa também criticou a União Europeia e os Estados Unidos ao defender imigrantes e refugiados.

 

6. Saúde e morte

 

Papa Francisco durante celebração — Foto: Yara Nardi/Reuters

Papa Francisco durante celebração — Foto: Yara Nardi/Reuters

 

Francisco apresentou um quadro de bronquite no início de fevereiro. Nos dias seguintes, o papa começou a ter dificuldades para discursar durante audiências religiosas. Ele admitiu publicamente que estava com dificuldades respiratórias e chegou a pedir para um auxiliar fazer a leitura do sermão.

No dia 14 de fevereiro, o papa foi internado no hospital Agostino Gemelli para fazer exames e tratar a bronquite. Mesmo hospitalizado, ele continuou participando de algumas atividades religiosas. No domingo (16), ele pediu desculpas por faltar à oração semanal com fiéis na Praça de São Pedro.

Já na segunda-feira (17), o Vaticano informou que Francisco estava com uma infecção polimicrobiana — causada por um ou mais microrganismos, como bactérias, vírus ou fungos. O quadro de saúde do papa foi descrito como "complexo".

No dia seguinte, em um novo boletim, o Vaticano anunciou que o pontífice estava com uma pneumonia bilateral. A infecção é mais grave do que uma pneumonia comum, já que pode prejudicar a respiração e a circulação de oxigênio pelo organismo de uma forma geral.

Francisco se recuperou e teve alta após cerca de 40 dias internado. O pontífice teve compromissos oficiais e chegou a realizar as celebrações de páscoa antes de falecer nesta segunda-feira (21).

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