O CASO NEYMAR: RADICALISMO DE PARTE DO FEMINISMO É UM PRATO CHEIO PARA O BOLSONARISMO
É fundamental ouvir o que as pessoas falam e tentar entender o que elas procuram expressar dentro do contexto dos significados mobilizados. Quando uma mulher diz que não é feminista é preciso compreender o sentido da afirmação. Há as que são simplesmente defensoras do retorno de hierarquias mais explícitas e tradicionais de gênero. Outras, porém, recusam o radicalismo desapegado da realidade que os movimentos identitários comumente apresentam. Não aceitam os lugares de fala essencialistas e a demonização do diferente presentes em tais ditos feminismos. Ora, existem homens que respeitam as mulheres e eles são sim bem diferentes dos que não agem conforme a lei.
Na visão radical identitária, por conta da fonte, este texto não poderia existir. Só mulher pode falar de mulher, pobre de pobre, etc. Para um tipo de movimento o homem já é culpado por ser homem. E no caso do jogador Neymar, acusado de estupro por uma mulher com quem manteve relações sexuais, tem um agravante. Ele é de direita. Não tem como ser inocente.
Uma minoria pequena só que barulhenta foi pra cima dele quando a situação veio à tona. A revelação do ocorrido mostra que o contexto é bem mais complicado do que a bolha identitária imaginou já de partida. Quem atacou Neymar agiu, no mínimo, de maneira precipitada, um sintoma das pré-noções que carrega. Agora, ao que tudo indica, terá de rever seus conceitos, pois existe outra versão e ela deve ser considerada. Ampla defesa é também para isto. Ou permanecer no espaço de esquemas fáceis e binários de um cercado apartado da complexidade da realidade.
Casos como esse da acusação contra o Neymar são um prato cheio para o bolsonarismo. O extremista será eleito novamente se os movimentos identitários não tiverem a capacidade de lutar pelos seus direitos aglutinando, ao invés de estigmatizando e segregando.
Foi resumindo toda rica e plural (nas visões e processos) pauta identitária a esse radicalismo visto agora contra o jogador de futebol, que o bolsonarismo conseguiu que os protestos feitos durante a campanha sob a alcunha #EleNão se voltassem contra os seus entusiastas. É um problema que persistirá enquanto homem for tratado por uma parte dos movimentos sociais como um misógino nato, branco como um racista inquestionável ou heterossexual como um homofóbico já desde criancinha.