17 de fevereiro de 2023

Sobre a movimentação incompreensível de Álvaro Dias: após começar o ano rifando Rogério Marinho e mandando recados para o PT, faz um giro tático e volta a se afirmar como de oposição ao petismo

Autor: Redação

Até agora este blogueiro tenta compreender a movimentação de Álvaro Dias e não consegue. Aliás, só vislumbra uma incursão atabalhoada a partir de um cálculo não realista. Vamos recapitular.

O ano começa com Álvaro Dias dando um cavalo de pau de 180 graus. Secretários de sua gestão dizem abertamente à imprensa que o ex-ministro Rogério Marinho, a quem Dias ajudou a eleger senador, não deixou verba para as obras alardeadas durante todo o ano de 2022. A mensagem era claríssima – Rogério Marinho deu um cano, não apenas no prefeito, como em toda a Natal. E vinha mais: a prefeitura dependeria do governo federal agora liderado pelo PT para realizar o que a gestão bolsonarista prometeu e não fez.

Aí, não mais do que de repente – em política as coincidências são raras -, começam a surgir balões de ensaio sobre uma possível aproximação entre Álvaro Dias e a governadora Fátima Bezerra. Chapas para 2024 em Natal com um nome de Dias e um do PT foram especuladas, inclusive.

O PT não se manifesta sobre as paqueradas do prefeito, que em 2022 organizou ações com médicos e empresários para achacar eleitores para que não votassem em Lula. A deputada federal Natália Bonavides, sentindo o assanhamento de Álvaro Dias, coloca seu nome à disposição para disputar a prefeitura do Natal. Foi uma pública demarcação de distanciamento.

A lapada dada pelo grupo de Álvaro Dias em Rogério Marinho tem consequências. A obra conseguida por Rogério Marinho para ponta negra é alvo de críticas por rogeristas pelo modo como a prefeitura do Natal conduzia a inspeção técnica e contratação dos prestadores de serviços. Ao que tudo indica, Marinho tem uma ascensão sobre Dias que não está devidamente clara.

O prefeito de Natal, que depende hoje da ajuda do governo federal, volta ao modo pré-campanha eleitoral de 2022, reafirma oposição ao PT e diz que será candidato em 2026 ao governo ou ao senado com apoio de Rogério Marinho. A inevitabilidade do caminho de oposição, após a tentativa não atingida de se aproximar do PT, pode ter tomado conta do cálculo do caicoense. Só que, ainda assim, ele perde o poder de despiste na possibilidade de manter diálogo com o governo federal. Uma pré-candidatura agora, sem combinar com ninguém e sem costurar com outros partidos – o forte União Brasil, por exemplo -, retira o elemento da agregação de forças e da livre circulação entre grupos políticos.

Enfim, é importante em qualquer análise procurar entender a racionalidade – o que é diferente de concordar com ela – embutida na conduta dos agentes em disputa. Só que a base de cálculo da incursão de Álvaro estava errada. Um estreitamento com o PT não tem amparo de possibilidade. E seu insucesso nessa busca deixou muito claro isto. Ele subestimou sua dependência de Rogério Marinho e superestimou a possibilidade de se alinhar com quem até ontem fez de tudo para destruir. Para os atentos, ficou mal na fita.