22 de janeiro de 2025
Problema de déficit do Brasil é pequeno e só requer alguma disciplina, diz André Esteves
Autor: Daniel Menezes(FOLHAPRESS) - O problema de déficit fiscal não é exclusivamente brasileiro, e o que o país precisa é apenas de um ajuste para retomar um nível sustentável de dívida, avalia André Esteves, fundador e presidente do conselho do BTG Pactual. Em painel sobre endividamento público durante o encontro do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, o banqueiro afirmou que não vê maiores problemas nas contas do país.
"Não temos déficit relevante em conta correte, e temos reservas internacionais altas", enumerou, acrescentando que o financiamento da dívida brasileira é quase majoritariamente doméstico. "Não vejo nenhum grande desequilíbrio macroeconômico, só precisamos ser um pouco mas disciplinados para abrir algum espaço para investimento público, que ainda é muito baixo."
Ao ser questionado sobre o défict no Brasil, Esteves respondeu que a questão é global, amplificada sobretudo pelos gastos públicos emergenciais feitos durante a pandemia.
"Podemos ver isso nos EUA, por exemplo. Na Europa. Na maioria dos mercados emergentes. No Brasil estamos nesse ciclo em que mantivemos as coisas [no lado fiscal] mais ou menos sob controle durante a pandemia, mas ainda não recuamos desses gastos excessivos, sobretudo na questão dos subsídios a certos setores", afirmou.
A questão fiscal é a única menção negativa ao Brasil que tem emergido com alguma frequência entre especialistas e investidores nas conversas sobre o país no fórum, segundo ao menos cinco executivos de diferentes setores ouvidos pela reportagem.
O tema também tem sido frequente nas análises sobre outros países, notadamente sobre os EUA, ante os planos de Donald Trump de cortar impostos, desregulamentar diversos setores e aumentar as taxas sobre produtos estrangeiros, elevando os preços dos produtos e reduzindo o consumo (e, consequentemente, a arrecadação).
Mas a passagem do Brasil pela reunião deste ano, iniciada na segunda (20), tem sido mais opaca do que nos últimos encontros, quando havia maior interesse nas mudanças de governos, na reforma trabalhista, na reforma tributária, na resiliência das instituições e em todos os debates que envolvessem clima ou energia.
Na edição de 2025, o país é mencionado por sediar a COP30 e como um ator relevante na transição energética, mas sem uma presença de peso do governo federal -o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) seria o único representante do Planalto e só chegaria na metade final do evento, o que o levou a mudar a agenda de reuniões- acabou esmaecido mesmo nesses temas, como observou uma participante.
Um executivo ouvido pela reportagem classificou o país como um "não assunto", sobretudo para os americanos, que enxergam Brasília como hostil a Washington, impressão que deve aumentar sob o mandato de Trump. Pouco após tomar posse, o republicano afirmou que os EUA não precisam da América Latina ou do Brasil especificamente.
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