22 de fevereiro de 2023

Até quando o ranking furado da violência da ong mexicana será levado à sério no RN?

Autor: Redação

Todos os anos uma ong mexicana apresenta um ranking das cidades mais violentas. A iniciativa seria boa não fossem os erros crassos de agrupamento regional e de metodologia.

Natal, que já entrou no ranking entre as 50 primeiras em anos anteriores, tem 1.2 milhão de habitantes porque, na verdade, para eles Natal é toda a região metropolitana. João Pessoa, outra que já foi ranqueada, passa pelo mesmo problema. As estimativas populacionais sobre o tamanho de Mossoró, que apareceu mal esse ano, estão erradas.

Eles também comparam metodologias e classificações distintas sobre o que é um crime violento. Tomar homicídio como crime base da violência não seria um problema se todas as contagens de homicídio fossem idênticas. O problema é que há diferenças e a ong compara água com vinho.

O estado de São Paulo, por exemplo, tem uma classificação mais branda, o que faz com que o número de homicídios seja subestimado. O Rio Grande do Norte usa uma contagem mais rígida por seguir a metodologia da secretaria nacional de segurança pública. Portanto, sequer é possível comparar, dentro do próprio Brasil, a situação de estado para estado se as diferenças de classificação e de metodologia não forem levadas em conta. Isto porque, teve estado que, diante do crescimento do contexto adverso, resolveu o problema quebrando o termômetro. O cenário é ainda mais bizarro se a comparação ocorrer de país para país.

Cabe citar um exemplo de fácil compreensão. Uma pessoa leva um tiro num atentado e fica internada por um mês. Durante a internação desenvolve uma doença e morre. No RN ela entrará para as estatísticas como assassinada. Em São Paulo não.

O observatório da violência ligado a universidades locais, OAB e especialistas em segurança pública já até se manifestou, em mais de uma ocasião, a respeito desse ranking furado (leia aqui). No Google é possível achar diversos textos em que as falhas acima já resumidas são debatidas para o caso de anos anteriores e de outras regiões.

Há três problemas de fundo que fazem com que todos os anos a tal ong dê suas caras por aqui – a falta de apuração sobre as fontes utilizadas, a ausência de memória coletiva porque este tema já foi objeto de polêmica no passado e a carência de consulta a bons especialistas. No fim, fica a pressa de publicar.

E, olha, é bem capaz que no ano que vem a ong mexicana apareça por aqui novamente.