19 de março de 2023

Rumor bolsonarista, terror e medo no RN

Autor: Redação

Por Alex Galeno, professor da UFRN

Para o Saiba Mais

O francês Edgar Morin em seu livro O Rumor de Orleães, chama atenção para os efeitos do rumor ou do boato na vida social. No livro, ele investiga os falsos rumores sobre estupros de mulheres em lojas de comerciantes judeus. O efeito mediático foi explosivo. Como um contínuo mediático atmosférico- aquilo que contagia e cria sensações momentâneas- o rumor espalha-se entre a população como pauta diária.

Relembramos tal fenômeno para pensarmos os efeitos da boataria nesses dias de pânico e terror causados pelo crime organizado no RN. Mais do que fake news usadas como método político pelo bolsonarismo nos últimos 5 anos no país, o rumor enraíza-se no imaginário da população como um fantasma que poderá atacar a qualquer momento.

E é assim que a fantasia é propagada em meios eletrônicos- tv’s, blogs, grupos de WhatsApp e Telegram. Mas também nas conversas entre familiares, vizinhos e, sobretudo, entre comunidades religiosas que se constituem pela produção de mitologias, muitas vezes, apocalípticas e messiânicas.

A extensão da fantasmagoria é materializada pelas bombas, tiros, mortes e mensagens ameaçadoras do crime organizado nas redes sociais digitais. Mas isso apenas não basta. Há um outro elemento a ser analisado. Trata-se da aliança implícita entre o modus operandi de bolsonaristas e o crime organizado. Ambos usam o rumor e fake news para difundir medos de que o governo do RN não garantirá segurança para a população. Mais ainda. Não é capaz de combater o crime organizado.

Por isso, não por acaso, milicianos, parlamentares, pastores bozocidas fazem coro com o crime organizado de que o governo do RN é o vilão diante da barbárie e terror dos últimos dias. Como se revivêssemos momentos pandêmicos, comércio, universidades, escolas etc. têm suspendido suas atividades e impostos a sentença “fiquem em casa”, pois sair às ruas é ficar exposto ao perigo.

Para enfrentar tal situação, uma das sugestões é o governo do RN considerar que não basta a presença das forças federais nos municípios e produção de imagens nas redes sociais digitais como demonstração de força. Evidente que não se combate bandidos sem uso da força, mas também será enxugar gelo não atacar aquilo que mobiliza ou alimenta o imaginário da população.

Desta forma, é urgente que a governadora do RN convide pastores e pastoras evangélicas, digital influencers, gamers, padres, blogueiros e blogueiras, representantes das religiões africanas, islâmicas, judaicas, espíritas etc. Além de lideranças comunitárias dos bairros de Natal e de outros municípios.

Como já nos alertou o velho Karl Marx, é pelo poder fetichista e fantasmagórico que a mercadoria se materializa. É pela ideologia. Não existe o material sem o imaterial. Por isso, reunir informação e religião no combate ao crime é urgente.