14 de agosto de 2023

Fantástico vai a lojas nos Estados Unidos onde as joias presenteadas ao governo Bolsonaro teriam sido negociadas

Autor: Redação

Do G1 - Esta semana foi marcada por uma operação da Polícia Federal que investiga a negociação, nos Estados Unidos, de presentes luxuosos recebidos por Jair Bolsonaro quando era presidente. De acordo com a lei, as joias e relógios são patrimônio da União.

Em Nova York, na Pensilvânia e na Flórida, nossos correspondentes percorreram os endereços onde os assessores de Bolsonaro negociaram essas peças.

O sorriso amarelo é obra de uma joalheria em Miami, um dos estabelecimentos que, segundo a Polícia Federal, atraíram o interesse dos assessores de Jair Bolsonaro responsáveis pelas negociações de presentes luxuosos dados por autoridades estrangeiras ao então presidente.

As investigações revelam um jogo de idas e vindas de norte a sul dos Estados Unidos, mas o ponto de partida está em outro país. Em visita à Arábia Saudita, em outubro de 2019, o presidente recebeu do governo do país o que a Polícia Federal chama de "kit ouro branco". O destaque do kit é um relógio da marca Rolex. Mais tarde, esse relógio e um outro, da marca Patek Philippe, foram vendidos a uma loja de um shopping no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos.

Polícia Federal investiga a negociação de presentes luxuosos recebidos por Jair Bolsonaro quando era presidente. — Foto: Reprodução/TV Globo

Polícia Federal investiga a negociação de presentes luxuosos recebidos por Jair Bolsonaro quando era presidente. — Foto: Reprodução/TV Globo

A origem do relógio Patek Philippe ainda é incerta. Segundo a Polícia Federal, pode ter sido um presente que Bolsonaro recebeu quando foi ao Bahrein, em novembro de 2021.

Em junho de 2022, Jair Bolsonaro foi a Los Angeles, nos Estados Unidos, para o encontro da Cúpula das Américas. De lá, passou em Orlando, onde ficou menos 24 horas. A viagem foi para a inauguração do vice-consulado brasileiro na cidade.

O tenente-coronel Mauro Cid, assessor de Bolsonaro, foi para os Estados Unidos com a comitiva presidencial, mas não voltou para o Brasil. Segundo as investigações, ele foi para uma casa, em Miami. Quem morava lá era o pai dele, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, que na época vivia na Flórida.

Em seguida, Mauro Cid viajou de Miami para Pensilvânia, onde, segundo a Polícia Federal, conseguiu vender o Patek Philippe e o Rolex à loja Precision Watches pelo equivalente a R$ 346 mil. Depois da venda, a conta do pai, o general Lourena Cid, recebeu um depósito de US$ 68 mil, o mesmo valor pago pelos relógios.

Segundo a PF, depois de vender na Pensilvânia o Rolex do kit ouro branco e o relógio Patek Philippe, Mauro Cid foi para Miami tentar vender o restante do kit. Uma rua no centro da cidade concentra lojas que compram e vendem ouro e joias. Tem, inclusive, um shopping, obviamente muito bem protegido, com mais de 300 joalherias. As investigações mostram que foi em uma delas que Mauro Cid colocou à venda o anel, as abotoaduras e o rosário islâmico do kit.

Em outubro de 2021, em visita à Arábia Saudita, o então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, recebeu o chamado "kit ouro rosé": relógio, abotoaduras, caneta, anel e um rosário islâmico da marca de luxo Chopard. Bento voltou ao Brasil sem declarar o kit à Receita Federal.

Segundo a Polícia Federal, em dezembro de 2022, o kit teria deixado o Brasil em um voo oficial que levou o ainda presidente Jair Bolsonaro para os Estados Unidos. Pouco tempo depois, o kit aparece em um site de leilões em Nova York.

É na sala 507 de um prédio que fica no centro de Manhattan que funciona uma casa de leilões chamada Fortuna Auction. Foi esta empresa, que se apresenta como a única do ramo especializada em joias e relógios, que no dia 8 de fevereiro colocou à venda o kit ouro rosé em um leilão online.

O conjunto não foi arrematado, e ficou em poder da empresa até pelo menos o dia 28 de fevereiro. Três dias depois, começaram a circular na imprensa as primeiras notícias levantando suspeitas sobre o destino de presentes milionários recebidos pelo governo Bolsonaro em visitas oficiais. Foi então que começou o que a Polícia Federal chamou de "operação resgate dos bens".

E em março, o Tribunal de Contas da União decidiu que os presentes tinham que ser incorporados ao patrimônio da União. Segundo a Polícia Federal, o grupo de Mauro Cid conseguiu reaver o kit de ouro branco.

E coube a Frederick Wassef, advogado de Jair Bolsonaro, comprar o Rolex que estava à venda no shopping da Pensilvânia. Quanto ao Patek Philippe, a Polícia Federal diz que "não há indícios de que tenha sido recuperado pelos investigados".

A PF diz também que todos os outros presentes já estão de volta ao Brasil. A lista inclui duas pequenas esculturas: uma palmeira e um barco dourados que Bolsonaro recebeu no Bahrein.

Segundo a Polícia FederalMauro Cid tinha enviado ao pai, o general Lourena Cid, o endereço de uma loja em Miami. Na troca de mensagens, o general Lourena Cid perguntou se os lojistas sabiam que ele levaria para avaliação e perguntou o horário do encontro. Mauro respondeu que eles sabiam, e informou: “Catorze horas”.

Segundo a PF, Mauro Cid tinha enviado ao pai, o general Lourena Cid, endereço desta loja em Miami. — Foto: Reprodução/TV Globo

Segundo a PF, Mauro Cid tinha enviado ao pai, o general Lourena Cid, endereço desta loja em Miami. — Foto: Reprodução/TV Globo

Fantástico foi até a loja. Ela é famosa pelos sorrisos que produz para quem pode pagar por uma boca de ouro ou de pedras preciosas. Um dos lojistas negou ter avaliado as esculturas. Ele disse que sabe do escândalo das joias e afirmou que não trabalha com obras de arte. A tentativa de venda deu em nada: as avaliações revelaram que as esculturas não são caras.

Agora, a Polícia Federal investiga se Jair Bolsonaro foi beneficiário do dinheiro da venda dos relógios, e pediu a quebra dos sigilos bancário e fiscal dele e da esposa, Michelle. O pedido vai ser analisado pelo STF - Supremo Tribunal Federal.

A defesa de Jair Bolsonaro disse que, em março de 2023, solicitou ao TCU o depósito dos itens no próprio tribunal, o que de fato aconteceu. A defesa diz ainda que ele jamais desviou bens públicos ou se apropriou deles, e que as contas do ex-presidente e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro estão à disposição do Poder Judiciário.

A defesa de Michelle Bolsonaro disse que ela não cometeu qualquer irregularidade.

Já o advogado Frederick Wassef disse que está sofrendo campanha de fake news e mentiras de todos os tipos. Ele afirma que nunca vendeu, ofereceu ou teve joia e nem ajudou qualquer pessoa a realizar qualquer negociação ou venda.

O advogado que representava Mauro Cid deixou o caso. O Fantástico não conseguiu contato com a nova defesa dele, nem com a de Mauro Lourena Cid.

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