15 de agosto de 2023

Wassef confirma viagem aos EUA para comprar Rolex e devolver à União, mas nega ter feito 'operação de resgate' a mando de assessor de Bolsonaro

Autor: Cecília Marinho

O advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Frederick Wassef, afirmou, em entrevista coletiva nesta terça-feira (15) na capital paulista, que viajou aos Estados Unidos e comprou um relógio Rolex em 14 de março deste ano como "presente ao governo brasileiro". Wassef, no entanto, negou ter participado de uma "operação de resgate" da joia a mando do ex-assessor de Bolsonaro.

 

O relógio de luxo foi um presente de autoridades sauditas a Bolsonaro durante uma viagem oficial do então presidente da República em 2019 à Arábia Saudita e ao Catar. O item foi levado para os Estados Unidos – para onde Bolsonaro viajou às vésperas de deixar a Presidência – e lá foi vendido, segundo a Polícia Federal, ilegalmente, pelo então ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid.

 

Em 15 de março, o TCU definiu prazo de cinco dias úteis para que Bolsonaro entregasse ao tribunal um kit com joias suíças da marca Chopard, em ouro branco, recebidas como presente do governo da Arábia Saudita em viagem oficial de 2019. A joia foi devolvida.

Na entrevista desta terça, Wassef disse que a viagem aos EUA já estava marcada e teria fins pessoais. A compra da joia, segundo o advogado, foi feita com dinheiro dele, "do meu banco". Ele deixou em dúvida se se trata de uma recompra do produto: "E se esse relogio for outro?"

 

"Usei do meu dinheiro para pagar o relógio. O meu objetivo quando comprei o relógio era cumprir decisão do Tribunal de Contas da União (TCU)", mas não deu detalhes. Segundo ele, a compra foi declarada à Receita Federal.

"O governo do Brasil me deve R$ 300 mil", afirma Wassef, enquanto mostra um recibo de compra no valor de US$ 49 mil. "Eu fiz o relógio chegar ao governo", afirmou o advogado sem, no entanto, dizer o caminho feito pela joia para entrar no país.

 

Não foi citado quem o avisou sobre o relógio, mas ele afirmou que não foi um pedido que tenha partido de Bolsonaro nem de Cid.

 

"A história que assessores me escalaram é falsa", disse Wassef, que negou ter amizade com Cid, afirmando ter com o ex-assessor de Bolsonaro "uma relação muito formal".

O relógio, segundo ele, foi pago em espécie e por dois motivos: por ser uma forma de registrar quem fez a compra, seguindo legislação dos EUA e para conseguir "desconto". "Consegui US$ 11 mil dólares [de desconto]. No Brasil, compra com cartão de crédito tem 5% de IOF", ressaltou.

 

A PF está analisando o material apreendido na operação de 11 de agosto, que investiga indícios de venda ilegal de presentes de alto valor entregues ao governo Bolsonaro. Foi pedida ao Supremo Tribunal Federal (STF) a quebra do sigilo bancário e fiscal da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Wassef convocou os jornalistas para uma entrevista coletiva nesta terça por dizer querer se posicionar "ao vivo" para não sofrer com "cortes da edição". Dividiu a coletiva em duas partes.

 

Na primeira, negou ter qualquer conhecimento sobre joias recebidas pelo governo Bolsonaro até o início deste ano. Na segunda parte da coletiva, entrou no tema da viagem dos Estados Unidos. Disse que queria passar férias, não fazer um "resgate" de seu cliente Bolsonaro. Contou que comprou o relógio em dinheiro vivo para devolver à União. "Não foi Jair Bolsonaro que me pediu. O dinheiro usado para a compra é lícito."

 

Investigação sobre o relógio

À jornalista Andreia Sadi, na segunda (14), ele havia divulgado uma nota em que afirmou que "jamais neguei a compra ou afirmei que comprei".

 

"Nada. Nunca vi esse relógio. Nunca vi joia nenhuma (...) Nunca na minha vida. Desafio a provarem isso. Falo e garanto", afirmou Wassef na noite do domingo (13).

Porém, conforme mostrou o blog de Valdo Cruz na segunda (14), o nome de Wassef aparece no recibo da recompra de um relógio Rolex nos Estados Unidos. A Polícia Federal acredita que o recibo é uma "prova contundente" contra o advogado e vai chamá-lo para depor. A PF também vai investigar quem deu o dinheiro para que ele recomprasse o presente dado ao ex-presidente. Além disso, quer saber como ele recebeu os valores, se foi em espécie ou transferência bancária.

 

Nesta investigação, a PF vai ter a colaboração das autoridades dos Estados Unidos, o que vai facilitar levantar de quanto foi a venda e a recompra, em valor maior, além da forma de pagamento.

 

O relógio, que vale cerca de R$ 300 mil, foi recebido de presente em 2019. Em junho de 2022, foi vendido nos Estados Unidos por Cid, segundo a PF.

 

Após a existência do Rolex ser revelada, em março de 2023 assessores do ex-presidente colocaram em campo uma operação para reaver o relógio, e Wassef, segundo as investigações, viajou aos Estados Unidos para buscá-lo.

 

A PF identificou várias interações entre Wassef e Mauro Cid na época e, em 11 de março, Wassef embarcou para os Estados Unidos.

Em 14 de março, os dois conversaram novamente por WhatsApp. Cid perguntou: "E aí?" "Toquei solo agora", respondeu Wassef, e enviou uma foto de dentro do avião.

 

Em 29 de março, segundo a PF, Wassef voltou ao Brasil com o Rolex e, em 2 de abril, entregou o relógio para Mauro Cid em São Paulo. Dois dias depois, a defesa de Bolsonaro devolveu o item à União.

 

"Uma coisa é a viagem que fiz para os EUA. Outra coisa é me acusar de organização criminosa e esquema de joia. É uma armação", diz Wassef ao blog.

Wassef diz ter tido poucos contatos com Mauro Cid e que não tem relação ou amizade com o assessor de Bolsonaro.

 

"Nunca tomei choppinho. Zero. Era absolutamrnte formal. Conto na mão as vezes que falei com ele", afirma. "Zero de qualquer outro tema ou assunto."

Wassef também disse ao blog que não coloca a mão no fogo por ninguém, "[só] pela minha mãe". Porém, destacou que a chance de Bolsonaro receber a joia é zero, e que não sabe responder se alguém faria tamanha operação sem consentimento do presidente.

 

O advogado afirma que só tomou conhecimento das joias no início deste ano, após ser procurado pela imprensa. "

 

"Eu disse que não sabia de nada, mas que eu ia ligar para Bolsonaro e retornava. Liguei, o presidente me disse: Fred, pode fazer uma nota, você vai ser o meu advogado nesse caso e falar em meu nome. E fizemos uma ligação: eu, Bolsonaro e Fabio Wajgarten, e Bolsonaro deu uma ordem: é o Fred, faça a nota e publique. Antes disso, não é que eu nunca vi nenhuma joia, nenhum presente".

Operação resgate

O relatório da Polícia Federal na investigação sobre a venda ilegal de presentes oficiais dados à Presidência da República mostra que o advogado de Jair Bolsonaro Frederick Wassef e o ex-ajudante de ordens Mauro Barbosa Cid empreenderam uma "operação de resgate" para devolver joias, já vendidas, ao Tribunal de Contas da União (TCU).

Fonte: G1

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