2 de novembro de 2023

Notícias sobre sífilis incentivam testagem para doença, aponta estudo

Autor: Cecília Marinho

SAÚD

Por Valéria Credidio / LAIS-UFRN

 

 

Em um período de quatro anos, entre os anos de 2015 e 2019, houve um aumento significativo no número de matérias publicadas tendo como tema central a sífilis no Brasil. A consequência desse aumento de veiculação de informação com qualidade foi o crescimento no número de testagem para a IST, em todo o país, possibilitando o tratamento e a cura dos pacientes testados.

 

Essa correlação entre a qualidade das notícias e a testagem de sífilis realizada na atenção primária à saúde foi o principal resultado obtido em pesquisas realizadas pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS/UFRN) e que é demonstrado no artigo “Análise de Mineração de Texto para Compreender o Impacto das Notícias Online na Resposta de Saúde Pública: caso de epidemia de Sífilis no Brasil”, publicado na Frontiers in Public Health, um dos principais periódicos científicos, de relevância internacional na área da saúde pública.

 

A influência da informação de qualidade é demonstrada em números. De acordo com levantamento realizado pelos pesquisadores, durante os quatro anos analisados, o crescimento foi considerável. Em 2015, foram registradas 15 matérias publicadas, no formato online, tendo a sífilis como tema central. Já em 2019, esse quantitativo chegou a 437 notícias produzidas e publicadas, o que significa aumento de aproximadamente 3000% em relação ao ano 2015. Vale ressaltar que em 2018, foi lançado o Projeto “Sífilis Não”, em uma parceria entre o Ministério da Saúde, LAIS/UFRN e Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) que impulsionou o tema em todos os meios de comunicação no Brasil.

 

Neste mesmo período, foi registrado um aumento de até 82% na testagem para sífilis, conforme ressalta um dos autores do artigo, Rafael Pinto.

 

“Encontramos uma correlação entre a qualidade das notícias e a testagem de sífilis realizada na atenção primária à saúde, com aumento de 82,32%, 78,13% e 73,20%, respectivamente, nos três tipos de testes treponêmicos utilizados para confirmar uma infecção.”

Para chegar a esses resultados, foi colocada em prática a coleta e processamento de notícias online automatizados por meio de um ecossistema digital de saúde proprietário estabelecido para o estudo. Também foram aplicadas técnicas de mineração de dados de texto a notícias online para extrair padrões de categorias de texto.

“A presença e a combinação de tais categorias nos textos coletados determinaram a qualidade das notícias que foram analisadas para classificá-las como notícias de alta, média e baixa qualidade”, explicou Rafael Pinto.

 

Com todos os levantamentos, cruzamento de dados e análises, os pesquisadores estão seguros em afirmar o grau de influência da boa comunicação no desenvolvimento de políticas públicas.

 

Para Juciano Lacerda, pesquisador da Comunicação e um dos autores do artigo, o trabalho, juntamente com outras pesquisas realizadas pelo LAIS, mostra que a realização de campanhas massivas de saúde pública, quando elas alcançam um sucesso significativo na sociedade, provocam uma reação positiva no volume de notícias que é publicado sobre aquela temática. Vale ressaltar que a análise do material jornalístico teve como critério sete indicadores criados pelos pesquisadores para avaliar notícias sobre sífilis, mas que podem ser aplicados a coberturas midiáticas de qualquer agravo. Todos os indicadores foram validados com gestores em saúde.

O pesquisador ainda ressaltou que a pesquisa mostrou justamente que houve um aumento exponencial de publicação de notícias espontâneas sobre sífilis no período da campanha realizada dentro do Projeto “Sífilis Não”. Ao mesmo tempo, com os critérios de qualidade de matérias desenvolvidas pelos pesquisadores, a partir dos textos jornalísticos produzidos pela equipe de comunicação do LAIS, percebeu-se que a produção de notícias nesse período teve um índice de alta qualidade muito grande.

Outra correlação percebida durante a pesquisa em relação à sífilis congênita, foi que as matérias online que tratavam das suas consequências, provocaram um aumento positivo na busca pelo tema na internet. Esse aspecto está fortemente (estatisticamente) relacionado ao aumento da testagem nas unidades básicas de saúde.

 

“Isso demonstra como as campanhas de comunicação em saúde pública são importantes para provocar uma mudança de comportamento, principalmente quando trata das questões relacionadas às possíveis consequências dos agravos”, argumentou.

Chegar a esses resultados só foi possível porque toda a pesquisa publicada foi baseada no uso de técnicas de inteligência artificial, como processamento de linguagem natural e modelos computacionais de regressão, as quais possibilitaram o cruzamento e a análise de dados de fontes distintas e heterogêneas, tais como, textos jornalísticos e dados epidemiológicos, ambos relacionados à sífilis congênita.

 

“Esses achados científicos são muito importantes, pois podem contribuir para orientar melhor as campanhas de comunicação do Ministério da Saúde do Brasil” - Ricardo Valentim, diretor executivo do LAIS/UFRN e um dos autores da pesquisa.

Cooperação Internacional

 

A pesquisa publicada é fruto de atividades e cooperações internacionais importantes, por isso o artigo reúne autores de universidades e instituições, como Universidade de Harvard (Estados Unidos), Universidade de Coimbra (Portugal), Universidade de Autônoma de Barcelona (Espanha), Ministério da Saúde do Brasil, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Brasil) e Instituto Federal do Rio Grande do Norte (Brasil).

De acordo com Valentim, essa é uma pesquisa de natureza transdisciplinar que integrou cientistas de várias áreas do conhecimento, como médicos, antropólogos, jornalistas, engenheiros e cientistas da computação. O diretor do LAIS reforçou que esse é um exemplo da importância de se construir network financiado com recursos para pesquisa, direcionado para o avanço das pesquisas na área da saúde pública.

“Os achados científicos deste artigo reforçam também esse aspecto, pois os grupos de cientistas, por meio destas cooperações internacionais, cujo Brasil foi protagonista, contribuem para auxiliar os formuladores de políticas públicas de saúde, neste caso específico, no campo da comunicação”, finalizou Ricardo Valentim.

 

 

Fonte: Saiba Mais

 

[0] Comentários | Deixe seu comentário.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.